Fanfic – Capítulo 1

Oi, pessoal! Aqui vai nosso primeiro capítulo de Pokémon Banchou. Estou muito feliz em escrever essa história, especialmente com tantos comentários positivos de amigos e fãs. Estou adorando voltar à ativa na seção de fanfics, e darei meu melhor para não contrariar suas expectativas… Vamos em frente, então. Muito obrigada por acompanhar a fanfic, e tenha uma boa leitura!

Capítulo 1
Somos Eu E Você Agora, Tusken

– Vá, Tusken! – urrou Yuusen, atirando a pokébola diante de si.

Em contato com o chão, o objeto se abre e emite uma luz intensa. De dentro da pokébola, sai um robusto pokémon reptiliano, apoiado sobre as patas traseiras e grandes olhos rubros como sangue. Uma carapaça envolvia sua cabeça pesada, por onde parte um rugido corajoso para uma criaturinha tão pequena.

– Como eu imaginei… – o sorriso confiante nos lábios de Kenshiki provocou Yuusen – Como sempre, eu fiz a escolha certa.

De dentro da pokébola atirada por Kenshiki, sai um rechonchudo Pandling. O pokémon de pelagem branquinha se destacava no breu da noite, e olhava determinado para o Tusken diante dele. Os dois cresceram juntos no laboratório, e mesmo para pokémons tão jovens, sabiam que um dia se gladiariam até que um deles desmaiasse. Se apenas seus treinadores tivessem o mesmo preparo emocional, aquele combate seria bem menos doloroso para ambos…

E assim, os primeiros comandos são dados. Sendo mais veloz que seu oponente, Tusken dispara em direção de Pandling e lhe acerta com um poderoso Tackle. O pequeno dinossauro tinha grande força, mas a robustez que diminuía os reflexos do Pandling era bastante conveniente hora de suportar investidas poderosas como aquela. O urso o surpreendeu com um olhar gélido, tão penetrante que fez com que Tusken perdesse seus eixos… O Leer usado por seu oponente diminuiu sua defesa, deixando-o mais vulnerável aos seus golpes.

Mas Tusken persistiu. Balançou a cabeça para os lados, recuperando-se da tonteira, e mais uma vez investiu sobre Pandling – que saiu rolando contra o chão. Kenshiki temia sacrificar os esforços de seu pokemon naquela tática, mas tinha confiança nas defesas de seu pokemon. Ordenou que Pandling usasse Leer mais uma vez, desta vez tão intenso que Tusken até gemeu de dor, recuando para trás tentando manter-se firme no chão. Aquela brecha era o que Kenshiki precisava para dar sua martelada final: agora era a vez de Pandling atacar.

O robusto pokémon atirou-se sobre Tusken, agora muito fragilizado, atirando-o para longe. Yuusen chama seu nome, sentindo o coração apertado por sua imprudência como treinador. Pandling, ofegante, observava seu companheiro caído no chão, gemendo de dor e usando o restante de suas energias para conseguir erguer-se novamente. Aquele Tackle quase havia lhe nocauteado, e sabendo do potencial de seu companheiro, Tusken sabia que Pandling não havia usado todo o seu potencial…

Diferente dos treinadores, Pandling não queria lutar contra seu amigo.

– Tusken, aguente firme! – gritou Yuusen, sentindo uma ardência lhe subir pelo nariz – Eu sei que você consegue se levantar, seja forte!

– Agora, Pandling! – ordenou Kenshiki, com o olhar abrasado – ACABE COM ELE!

O ursinho respirou fundo, e mesmo contrariado, disparou furioso em direção de Tusken. Seria aquele o fim? Teria a grande jornada de Yuusen acabado antes mesmo de começar? O tempo pareceu correr mais lentamente para Tusken. O réptil abriu seus olhinhos, e viu aquele humano olhando para ele com grande preocupação nos olhos verdes arregalados. O peito subia, seu rosto transpirava… Aquele garoto contava com sua força. Tusken não podia desistir ainda!

A poucos centímetros de atingí-lo em cheio, Tusken rola no chão com incrível destreza e se pôs de pé. Com a força de suas coxas fortes, Tusken dá sua investida final sobre seu oponente, pego desprevenido e sofrendo grande impacto. Pandling gemeu alto, anunciando sua derrota, caído no chão imóvel e ferido, respirando com dificuldade… Kenshiki percebe sua derrota, tão bem quanto Yuusen não parecia acreditar em sua vitória – no entanto, nada disseram. O silêncio entre os dois agora falava por mil palavras.

– Eu cumprirei minha promessa de deixá-lo ir, Yuusen… – disse Kenshiki, ajoelhando-se próximo a Pandling e devolvendo-o a sua pokebola – Só espero que não se arrependa do que está fazendo…

– Jamais – Yuusen respondeu com um olhar em chamas, olhando para Kenshiki uma última vez.

O estudante nunca vira tamanha determinação estampada nos olhos de seu amigo. Yuusen era teimoso, por isso Kenshiki sempre soube que aquele era um caminho sem volta. Incapaz de convencê-lo do contrário, Kenshiki entrou no jogo e tentou impedi-lo de cometer uma loucura, antes que fosse tarde demais… Agora, nada mais podia fazer, além de superar seu próprio fracasso.

Com Tusken em seus braços, Yuusen alimentou-o com um spray de Poção, recuperando-o da dura batalha. De costas para seu oponente, o rebelde ergue-se para adentrar o bosque de matas fechadas, e escuta as últimas palavras de seu amigo:

– Pense que o que eu fiz foi pelo seu bem, Yuusen. Nós somos jovens, ainda temos tanto o que viver… Não quero que seja morto na mão de homens perversos, senguindo um sonho que não pode alcançar.

– Kenshiki… Eu não conseguiria viver com a culpa de não ter tentado buscar meus objetivos. Se eu fosse o que você quisesse que eu fosse, meu sonho seria ser o que sou.

– Então, lhe desejo boa sorte… – a voz de Kenshiki sempre era um tom frio. Às vezes, era o que ele dizia que a tornava mais branda – Adeus, Yuusen. E retorne para cá vivo…Será bom encontrá-lo novamente no futuro.

Yuusen demorou para responder, de forma que Kenshiki pensava que ele já tivesse ido embora. Virou a cabeça sobre os ombros e certificou-se que o amigo continuava lá, de costas para ele, com o orgulho de impedindo de demonstar seus reais sentimentos. Mordendo os lábios, Yuusen respondeu com a voz rouca:

– …Adeus, Kenshiki.

E seguiram seus caminhos, cada um andando na direção contrária.

Yuusen ganhava velocidade a cada passo dado contra o chão. Correu sem rumo pela trilha do bosque, rangendo os dentes furioso, sentindo as lágrimas quentes descendo pelos seus olhos apertados contra a testa franzida. Balançava os braços com punhos fechados para ganhar mais agilidade, mas a velocidade era tanta que ele não suportou e caiu de joelho no chão. Suas mãos e braços foram feridos pelo solo arenoso, o peso de sua mochila lhe esmagou as costas na queda, mas a dor que sentira não era nada comparado ao sofrimento que consumia seu coração…

Agora já não tinha mais nada. Já não tinha mais os amigos da escola, a garota que amava, a família formada por vários irmãozinhos postiços do orfanato… Já não tinha mais um teto para viver, uma vida decente para construir. Tinha consciência que, a partir do seu primeiro delito, passaria a fugir, esgueirar-se nas sombras, viver como um indigente em busca de uma vida digna. Mas agora que já não tinha mais as pilastras que o sustentavam, então como iria fazer isso… Sozinho?

Solidão, a lepra da alma. O silêncio da floresta sugava sua força vital, enchendo seu coração de desespero. Chorava copiosamente, fechando o punho na blusa branca meio aberta ao sentir pontadas em seu peito. A pokébola de Tusken cai de sua mochila e rola um pouco no chão, libertando o pokemon aprisionado dentro dela.

Tusken olha ao seu redor, admirando a paisagem silvestre. Os grandes olhos vermelhos param sobre o rapaz chorando violentamente ao seu lado, cobrindo a face com as mãos na tentativa de se conter. O curioso pokemon se aproxima, tocado pela tristeza de seu treinador, preocupando-se se ele ficaria bem. Yuusen limpa suas lágrimas, percebendo que seu pokémon o observava.

– Me desculpe, Tusken… – assoou o nariz – Eu não tenho a intenção de mostrar fraqueza na sua frente. Não quero que se preocupe comigo…

– Tuskeeen!… – o pokemon expressou incredulidade, como se o que Yuusen tivesse dito fosse uma grande bobagem.

– Você acha que não? Prefere um relacionamento aberto? – Yuusen viu Tusken concordar com a cabeça – Mas… Aah, claro. Como pude ser tão tolo… – Yuusen sorriu, limpando as lágrimas.

Aquele humano ajoelhado diante de si ficava muito melhor com um sorriso nos lábios. Parecia radiante, e Tusken gostou de vê-lo melhor.

– Você é meu pokémon… Somos eu e você agora, Tusken. Enquanto estivermos juntos, nunca estaremos sozinhos. Eu fiz grandes sacrifícios antes de partir nesta busca… Deixei tudo para trás para seguir meus sonhos, traçar meus objetivos. Deste vazio que sinto em meu peito, enxergo uma nova oportunidade… A oportunidade de começar tudo de novo.

– Kee-eeen! – Tusken pareceu surpreso, ficando cara a cara com Yuusen.

– Olhando para você, meu primeiro pokemon… Vendo meu reflexo nesses seus grandes olhos vermelhos, e vendo que está disposto a ser meu companheiro mesmo depois do que eu fiz… É revigorante. A pureza de um pokémon era o que eu precisava para compreender… Agora, eu entendo que preciso ser mais forte agora, por mim e por você. Você concorda comigo?

– Tus-KEN! – o dinossaurinho respondeu com alegria, aproximando o focinho de Yuusen. O treinador permitiu que o pokemon o farejasse, captando seu cheiro e o identificando.

– Agora vamos, Tusken… Está tarde da noite, e precisamos encontrar um lugar para descansar.

Evitando se aprofundar no bosque para não adentrar em sua região mais perigosa, Yuusen e Tusken ficaram numa clareira próxima a margem da estrada. O jovem rapaz tira sua roupa lavada de suor e a posiciona no galho de uma árvore, preparando o camping enquanto Tusken farejava os arredores com a curiosidade de um cachorrinho labrador. Yuusen sorriu ao admirar aquele pokemon, que nunca havia deixado o laboratório antes, explorar o mundo a sua volta e descobrir novas sensações em cada cantinho a cercá-lo.

Yuusen tirou o candeeiro pendurado ao lado de sua bolsa e o acendeu. Estendeu um forro grande sobre o chão da floresta, em seguida, abriu e afofou seu saco de dormir. Tirou os tênis e as meias, sentindo-se confortável para ficar apenas de calça jeans perto de Tusken. Posicionou sua mochila ao lado de uma árvore, deixando o zíper aberto – a diversidade de aromas exalados de dentro da pesada mochila de Yuusen atraiu o faro sensível de Tusken, que já foi enfiando o focinho curioso dentro de cada bolso e compartimento.

Yuusen, ainda com o nariz entupido, tirou de dentro de sua mochila abarrotada de mantimentos um saquinho plástico azul-metalizado e uma garrafa térmica com água quente. Tusken observou como aquele humano usava habilmente seus dedos para abrir o saquinho, girar a tampa da garrafa e despejar o liquido esfumaçante dentro do recipiente, preparando seu alimento. Quando Tusken pegou um dos saquinhos de ração para imitar os movimentos de seu treinador, sentiu as dificuldades de uma criatura desprovida de polegares opositores…

O jovem rapaz tirou de dentro de sua mochila um pacote de amendoins. Abriu-o, despejou alguns na palma da sua mão grossa e ofereceu-os a Tusken. O pokemon se aproximou, cheirou-os e comeu um a um, mastigando as castanhas docinhas e deliciando-se com o sabor tão mais agradável do que o das rações que comia todos os dias. Conforme segurava graciosamente o pacotinho em suas mãos e desfrutava de seu banquete, analisava as formas físicas do seu novo companheiro.

Yuusen era um adolescente musculoso, de corpo atraente e trabalhado para um rapaz de sua idade. Seu olhar verde era penetrante como uma navalha na alma. A parte superior de seu cabelo bicolor era curta e platinada, expondo suas feições másculas, desenvolvidas – enquanto a parte inferior era preta e raspada, criando um contraste interessante. Em seu pescoço, um colar adornado por uma pena branca de ponta avermelhada e um pequeno cristal da mesma cor, que por alguma razão era muito familiar a Tusken.

Após jantar sua humilde ração humana, Yuusen prepara-se para dormir. Havia preparado uma colcha de folhas para o descanso de Tusken, que já dormia em sono profundo. O jovem pôs os braços atrás da cabeça e admirou o céu estrelado diante de seus olhos, um cenário emoldurado pela copa das árvores a cercá-los na clareira. Quantos pontinhos brancos respingados na grande abóbada azul reluziam para ele… Nem a vista mais privilegiada de Kumoichi lhe ofereceria tamanho deslumbre. Yuusen percebeu que uma única e solitária estrelinha não poderia ser avistada no céu, mas quando cercada de outras tantas, tornava-se parte de um grande espetáculo da natureza…

Somos como as estrelinhas, Yuusen… Cada um de nós tem seu brilho. E quando juntos, somos capazes de coisas incríveis. Mas você sabia disso… Não é? Sabia desde o início. Por isso decidiu jogar tudo para trás e percorrer o mundo em busca dos banchous, pois sabia que só assim poderia começar a mudar a realidade do país que vivia. Sua bravura ainda vai inspirar muitos outros, meu jovem… Apenas tenha paciência.

A concentração de Yuusen é quebrada pelo barulho de folhagem sendo revolvida. Ele olhara Tusken e o vê se levantando sonolento de seu colchão, caminhando cambaleante em sua direção. Yuusen senta-se no saco de dormir e o acaricia pelas costas, perguntando:

– O que foi, rapaz? Não consegue dormir?

– Tus-keeeeen… – concordou o pokemon.

– Tudo bem, garoto… Pode dormir aqui comigo, se quiser.

E o adorável pokemon procurou pelo colo de seu treinador, abraçando-se e se aconchegando em seu peitoral quentinho, fechando os olhos e se preparando para dormir novamente.

– Sente falta da sua mamãe, Tusken?… – as palavras de Yuusen ficaram soltas no ar.

Tusken nada respondeu, apenas se aconchegou ainda mais no colo de seu treinador, com uma expressao de sofrimento nos olhos, abrandada pelo carinho de Yuusen em seu pescoço grosso.

– Eu também sinto a falta da minha…

E eventualmente caíram no sono. Precisariam descansar bastante, pois o dia seguinte seria cheio. Cheio de descobertas, cheio de emoção, cheio de surpresas. Tenha coragem, Yuusen, seja perseverante… Quando ter certeza que seus pais estão sempre olhando por você, e só assim perceberá que está longe de estar sozinho.