Oi, pessoal! Aqui vai mais um capítulo de Pokémon Banchou. Muito obrigada por todos os comentários, lembrando sempre que críticas e sugestões são essenciais para o aprimoramento do artista! Continuem acompanhando a fanfic, e tenham uma boa leitura! ^^
Capítulo 3
O Segredo do Samurai (Parte 1)
– Sejam bem-vindos ao Centro Pokémon. Em que posso ajudá-los?
Seu olhar era vazio, e sua expressão era apática. Pálida como uma vela, a recepcionista do Centro Pokémon recebeu o casal de jovens viajantes com o pior ânimo possível. Suas vestes eram negras e sóbrias, tão bem quanto o ambiente sério e sem vida que os cercava. Sendo um órgão público, os Centros Pokémon espelhavam em suas enfermeiras a face do governo de Mai Teng: negro, frio e sem vida, sempre acompanhado daquela sensação latente de hostilidade.
– Gostaríamos de curar nossos pokémons e alugar um quarto, por favor… – Yuusen disse, sem apresentar a firmeza que sua voz costumava ter.
– Suas IDs, por favor.
Yuusen tateou seu corpo com um olhar incrédulo, procurando sentir sua Trainer ID em algum de seus bolsos. Gelou ao lembrar-se de que não poderia usar sua identificação de treinador – afinal, agora era um foragido da Justiça. A enfermeira apenas esperou pacientemente, piscando apaticamente seus olhos sem brilho. Percebendo a gravidade da situação, Natsumi coloca sua Trainer ID sobre o balcão e a oferece à enfermeira.
– Pode por em meu nome – ela disse com confiança.
– Está certo – ela pegou o cartão magnético e o passou no leitor digital.
O casal se entreolhou, e Yuusen agradeceu a Natsumi pelo olhar. A enfermeira preencheu alguns dados, recolheu as pokébolas e ofereceu a chave do apartamento, dizendo que mais tarde seus pokémons seriam entregues pelo serviço de quarto. Natsumi agradeceu e ambos seguiram para os apartamentos no andar de cima, em silêncio absoluto, reconhecendo que estavam em território inimigo e com a desagradável sensação de estarem sendo constantemente observados…
– Isso está ficando perigoso, Natsumi – disse Yuusen, destrancando a porta do quarto – Não podemos mais nos dar o luxo de usar Centros Pokémon… Não esqueça que sou um foragido da lei. Precisamos arranjar outro jeito de passar a noite.
– Você tem razão – a jovem dama adentrou o recinto, acendendo a luz e revelando os dois beliches em cada canto do quarto, um frigobar, uma porta que levaria ao banheiro e uma janela nos fundos. Natsumi se aproximou da mesma janela, fitando o quadro formado pela enorme Lua pairando sobre a paisagem urbana – Vamos precisar acampar, e curar nossos pokémons sozinhos…
– É a melhor solução, não é?… Vou usar o banheiro.
– Fique à vontade.
Natsumi tinha uma boa razão para fitar a paisagem através da janela… Não queria que Yuusen a visse com o rosto corado, envergonhada em compartilhar seu dormitório com um rapaz. Olhou para sua mochila sobre a cama, sentou-se na beira e a abriu à procura de algo. Tirou de dentro dela as roupas que usaria no dia seguinte, escova de dente e celular. No fundo da mochila, uma carta especial de alguém especial, que deveria ser entregue a Yuusen como havia prometido antes de deixar Kumoichi.
– Yuusen – disse Natsumi, assim que o parceiro deixara o banheiro, colocando a blusa do pijama – Antes de deixar a cidade, eu fui até o orfanato… Perguntei à senhora Yoi onde você poderia estar, sabendo que ela havia ajudado em sua fuga – Yuusen ficou cabisbaixo, lembrando-se da doce senhora que por muito tempo foi como uma mãe para ele – Ela me disse que você tinha planos de usar a trilha do bosque, mas que antes que partisse… Ela pediu que eu entregasse isto a você.
Estendeu uma carta em um envelope de cor laranja, com aroma de Sitrus Berry. Yuusen a segurou entre os dedos e a levou ao nariz, sentindo aquele cheirinho gostoso que tanto adorava, adoçando seus sentidos.
– Ela sabe que é a minha berry predileta… – disse abrindo o envelope – Obrigado, Natsu. Guardarei no coração.
E a carta dizia:
Meu querido Yuusen… Sabe o quanto me dói escrever estas palavras. A princípio, mostrei muita resistência a essa sua ideia louca de sair e bater de frente com os lobos, mas o conhecendo, sabia que tinha apenas uma opção… A de lhe apoiar em sua busca. Depois tanto insistir, tanto implorar em partir nesta jornada com seu amigo, nada mais pude fazer. Sei de seu potencial, só peço que possa compreender a dor em meu coração abalado pela preocupação…
Seus irmãozinhos do sentem sua falta – Yuusen mordeu os lábios e segurou as lágrimas nesta hora – Você sabe o que faz, Yuusen. Arquitetou meticulosamente cada passo dado, não envolvendo seus queridos irmãos postiços do orfanato em seu plano, sabendo que seu emocional poderia intervir em sua decisão final – eu sei disso, porque o carinho que você tem por cada um deles é especial. Você tem um coração de ouro, e certamente não partiria se eles insistissem que você ficasse – caso contrário, poderiam até pedir para que você os levasse!
Não me entristece saber que você os magoou, pois entendo sua falta de opção. É exatamente por isso que eu o deixei partir, Yuusen… Para melhor ou para pior, eu sei que você retornará, e quando o fizer, será um homem feito. Estará mais forte e mais sábio, um melhor exemplo de irmão mais velho (não que já não o fosse).
Gotas de lágrimas salpicaram o papel fino da cartinha escrita com tanto amor. Yoi era uma senhora forte, baixinha e acima do peso – mas era adorável, gentil e dedicada dona do orfanato. Amava todos ali como os seus próprios filhos, semeando a esperança no coração de cada criança vítima da perda dos pais. Yuusen praticamente nasceu e cresceu naquele orfanato, tornando-se uma figura querida por todas as crianças mais novas, as adotando como irmãos da mesma forma que Yoi o adotou como filho…
No restante da carta, a mãe adotiva dizia com alegria que nunca deixaria de ter fé em Yuusen, e que estaria sempre pronta para recebê-lo quando voltasse. Contou alguns fatos engraçados que se antecederam nos últimos dias, causando risos no jovem adolescente. Pediu para que ele mantivesse contato constante com ela, e só assim, ela se sentiria mais aliviada e teria notícias para dar às crianças do orfanato.
– Não foi fácil pra você, não é?… – perguntou Natsumi, vendo o sempre tão durão Yuusen com os olhos marejados.
– Não. Me parte o coração saber que tive que deixá-los para trás… A luta que estou liderando não é apenas por mim. Minha maior inspiração foi o desejo de dar uma vida digna para meus irmãozinhos, lhe negada desde o início da vida pelo óbito dos pais. E eu vou fazer o meu objetivo uma realidade… Para eles, e para todos de Mai Teng. Por isso, amanhã bem cedinho, vamos procurar pelo Chouhariken no Banchou, o líder rebelde de Kuromachi.
– Eu sei. Mas como pretende fazer isso?
– Kenshiki me deu uma informação muito preciosa – Yuusen sentou-se na borda do beliche diante de Natsumi – Ele me disse que o Chouhariken tem um emissário no Mercado Municipal. Ele é um senhor velho, corcunda e que fuma cachimbo, vendendo colares numa barraca de souvenires… Nós vamos procurá-lo e pedir para falar com o banchou local.
– Kenshiki lhe disse isso? – Natsumi pareceu surpresa – Estranho ele saber dessas coisas. Mas ele é tão inteligente, certamente estava bem preparado para a jornada… Pelo jeito, até mais do que você.
– Continue rindo, princesa – Yuusen sorriu, afofando o travesseiro atrás de sua cabeça, pousando as mãos na nuca – Nossa jornada está apenas começando…
– Por que não diz isso à ela?
Natsumi sorriu, estendendo o celular para que Yuusen fizesse uma ligação. O jovem pegou o aparelho touch screen em sua mão, pensando no que diria e para quem diria… Com entusiasmo, digitou os números na tela sensível ao toque e ligou para o orfanato. Ao ouvir o “Alô?” caloroso de sua adorada mãe adotiva, o jovem sorriu largamente e a cumprimentou. Após a longa e emocionante ligação, Yuusen poderia dormir tranquilamente naquela noite…
Na manhã seguinte:
– Escutem bem, vocês dois – Natsumi deu as ordens para Tusken e Sparkitty, que a encaravam sem piscar os olhos diante de sua autoridade – Não se esqueçam do que estamos procurando. Um velho, corcunda, fuma cachimbo numa barraca de souvenires
Os dois concordavam veementemente com a cabeça. Não ousariam contestar a autoridade da jovem colegial, sempre tão certa de suas palavras. Tusken parecia amedrontado com a atitude mandona de Natsumi, não tranqiilizado pelo aparente nervosismo de seu parceiro Sparkitty. Se entreolhavam, e apenas uma dúvida pairava no ar… O que seria um souvenir?
Conforme o casal de colegiais descia as escadas, continuavam falando sobre o assunto – subitamente encerrado com a visão diante da porta do Centro Pokémon.
– Yuusen!… – Natsumi exclamou baixinho, arregalando os olhos.
– Calma, Natsu… Relaxe. Abaixe a cabeça e não os olhe nos olhos.
Uniformes militares pretos como o breu noturno. Chapéus cujas abas lhes cobriam a fronte, como que ocultando sua identidade. Botas pesadas marcando seu passo contra o chão, se aprofundando no saguão principal do Centro Pokémon. Os rifles seguros ao lado do corpo traziam calafrios em quem os visse, sabedores de que eles poderiam disparar suas balas quando os soldados bem entendessem… Até os pokémons temiam sua presença. Os lobos da sociedade, os cães do governo – soldados da milícia faziam sua ronda diária nos arredores do Centro Pokémon.
Diferente dos pacientes, a enfermeira permaneceu apática à presença daqueles homens – justamente pelo fato do Centro Pokémon também ser um órgão público. Agindo naturalmente, mesmo que com o coração palpitando forte contra a caixa torácica, o casal de estudantes passou pelos dois milícias que cruzaram seu caminho. Sem nada a dizer ou expressar.
Até que, ao virar-se de costas para os dois, Natsumi sente algo lhe subindo entre as nádegas empinadas sob a saia curta. O cabo rijo do rifle, manipulado propositalmente pelo soldado, ergueu o tecido da saia e expos a calcinha branquinha, fazendo com que o soldado se deliciasse com a visão que tivera por cima dos ombros. Natsumi gemeu surpresa, percebendo que estava sendo assediada pelo temível homem que passara ao seu lado.
– O que houve, Natsu? – Yuusen perguntou, sobressaltado.
– Não foi nada, Yuusen, vamos embora! – ela disse, obviamente abalada pelo que aconteceu.
Yuusen ficou agressivo, e estava disposto a retornar para enfrentar os dois milícias. Os homens olharam por cima dos ombros com uma expressão ameaçadora nos olhos, e o som das balas sendo carregadas dentro dos rifles fez gelar a espinha de Natsumi. Como se uma fina lâmina atravessasse seu delgado pescoço, a jovem apavorada segurou Yuusen pelos ombros, que insistia em afrontá-los.
– Não aconteceu nada, Yuusen, vamos embora!
Ao atravessarem a porta automática do Centro Pokémon, a sensação era de estarem deixando um covil inimigo. Natsumi suspirava aliviada, sentindo o fôlego lhe faltar pelas intensas emoções. Yuusen continuava bufando de raiva, fechando os punhos com ódio ao ser obrigado a abaixar sua cabeça diante de uma situação como aquela. Aquele canalha havia alisado sua garota! Não poderia tê-lo deixado sem uma resposta!
– Não perca o foco, Yuusen – disse Natsumi, ofegante – Deixa… Melhor deixarmos estar. Para nosso próprio bem…
– Tenha mais voz na próxima vez, Natsumi! – exclamou o rapaz – Pelo menos mostre o mínimo de respeito por si própria.
– Me desculpe, eu… Eu fiquei com tanto medo! – levou as mãos ao rosto, sentindo-se muito envergonhada pela situação a qual foi submetida – Eu fiquei tão surpresa, tão chocada, não soube o que fazer!
Yuusen sentiu pena de Natsumi. Envolveu-a em seu abraço, tentando impedir que as lágrimas descessem por sua face, afetando as lindas feições do rosto que tanto admirava. Sparkitty se aproximou, igualmente penalizado, pousando a patinha na perna de sua treinadora como se a confortasse. Natsumi olhou para os olhos verdes de Yuusen, e eles silenciosamente se perdoaram pelo acontecido… Sorriu com o rosto vermelho, ajoelhou-se no chão e abraçou seu querido Sparkitty – o coitadinho ainda tremia de medo, e isso era bastante para alguém tão destemido quanto o seu pequeno leãozinho!
– Tus-KEN! – disse o dinossaurinho, chamando atenção de seu treinador.
– Aaahh, meu garoto! – Yuusen esfregou a testa na de Tusken, balançando seu corpinho robusto de forma que lhe arrancava risos gostosos.
Seu adorado pokémon o olhava com os grandes olhos rubros como rosa, brilhando ao refletir o espírito radiante de seu treinador, contagiando Tusken com sua vivacidade. Tusken estava maravilhado com a oportunidade de descobrir o mundo ao seu lado, conhecer as maravilhas que o cercavam – e não menos importante, com a oportunidade de crescer e tornar-se mais forte. Afinal, ele precisaria ficar mais forte caso quisesse defender seu treinador, e todos aqueles que fossem importantes para ele… Natsumi pousou a mão no ombro de Yuusen, e ambos caminharam em direção ao horizonte, rumo ao Mercado Municipal.
Admiravam a paisagem da pequena cidade de camponeses. Kuromachi tem prédios robustos de telhados geométricos, clima agradável e povo hospitaleiro. Além dos tradicionais uniformes escolares, a indumentária era marcada principalmente por quimonos. Conforme se aproximavam do mercado, viam o fluxo de pessoas aumentando juntamente com a euforia de uma feira ao ar livre.
A curiosidade guiava o faro sensível de Tusken de encontro a tudo que tivesse um aroma atrativo, fossem frutas e verduras ou doces e salgados fresquinhos. De artesanato a ferramentas do campo, a Feira Municipal de Kuromachi era o coração da cidade rural. Pessoas e seus pokémons iam e viam, a pé ou à carroça, como se cada cidadão fosse uma engrenagem do complexo maquinário que dava vida às ruas e prédios da cidade.
No centro da praça, havia uma grande estátua de samurai. A estátua era um tributo aos guerreiros que, por muito tempo, mantiveram a ordem e justiça em Kuromachi. Após o golpe militar, alguns se revoltaram contra o governo e foram cruelmente dizimados, condenados à morte em praça pública. Hoje, com seu orgulho podado, os guerreiros perpetuam seus ideais e filosofia de vida como mero símbolo de sua cultura local. O governo se aproveitou do causo como uma forma de intimidar as pessoas, uma ameaça para todos que se atravessem a se colocar contra ele.
Yuusen olhava fixamente para a estátua de mármore retratando um homem adulto e musculoso, de feições severas e fortes, ajoelhado com uma das mãos segurando a bainha de sua espada enquanto a outra a retirava, revestido por uma armadura samurai feita de cobre. Era como se o olhar daquela estátua o atravessasse, como se quisesse se comunicar com ele. A intensidade com a qual o jovem colegial encarava a estátua chamou a atenção de um comerciante, observando como o gakuran tremulante de Yuusen o fazia parecer…
Um verdadeiro banchou.
– Vejo que está maravilhado com a estátua do samurai Musashi, meu jovem rapaz… – assim o disse uma voz próxima, tão rouca e anciã que arrepiava os pêlos de Yuusen – Sinto em seu olhar o vigor intenso, uma chama que queima como se refletisse o que este herói uma vez foi para nós…
Yuusen virou na direção daquela barraca. Uma figura baixa e corcunda se escondia por trás do balcão improvisado, repleto de colares dos mais diversos tamanhos de cores, feitos de matéria-prima local. Sua face se ocultava no manto negro revestindo seu corpo doente, com apenas um longo cachimbo a esfumaçar apertado entre seus dentes. Não havia sombra de dúvida de que aquele estranho indivíduo era quem Yuusen e Natsumi estavam atrás.
– Estão à procura de algo, meus jovens?… – perguntou novamente o ancião.
– Sim, senhor – respondeu Yuusen, tentando decifrar a aparência daquela estranha figura – Mais exatamente, estamos procurando uma pessoa.
– Hummm, que interessante… – o velho coçou o queixo, e pareceu esboçar um sorriso – De onde vocês vêm, provavelmente não entenderiam, mas… Numa cidade pequenina como esta, todos os habitantes se conhecem. Posso ajudá-lo a encontrar quem procura…
– Exatamente. Apenas o senhor pode nos ajudar.
O velho ancião permaneceu em silêncio. Um clima de tensão pairou pelo ar, como se aquela barraca mítica fosse paralela ao tempo e espaço. Yuusen se abaixou no balcão, aproximando o rosto do ouvido do velho encapuzado:
– Eu procuro o Chouhariken no Banchou – sussurrou em voz baixa – O que devemos fazer para que ele nos receba?
– Depende de quem quer falar com ele… – o velho respondeu, simplesmente, deixando suas palavras no ar.
– Somos estudantes de Kumoichi – disse Natsumi – Deixamos nossa cidade-natal à procura de ajuda. Precisamos encontrar os líderes rebeldes, só assim nossa voz não será calada… Queremos que eles nos escutem, ou mesmo nos aceitem em sua causa, pois estamos cansados de apenas sentar e ver o mundo a nossa volta gradualmente sucumbindo!
Yuusen leva o dedo aos lábios, pedindo para que Natsumi fizesse silêncio. Tusken puxou a barra de sua calça jeans, pedindo para que ambos olhassem na direção em que ele apontava: ao sul, os dois milícias do hospital se aproximavam, e estavam acompanhados de outros quatro. Seria bom diminuir o tom de voz, caso não quisessem chamar atenção…
– Por favor, senhor – disse Yuusen – Permita que nós vejamos o Chouhariken no Banchou!
– Não pensem que banchous são difíceis de acessar, meus jovens. Pela sua bravura e força de vontade, eu digo que os levarei até nosso Chouhariken… Quem sabe, ele poderia lhes dar a palavra de sabedoria que vocês procuram.
– Yuusen, CUIDADO! – gritou a jovem.
Uma confusão havia se estabelecido na feira. Pessoas corriam desesperadas naquela direção, enquanto barracas eram reviradas pelos milícias. O que os três não sabiam era que uma das barracas escondia shards amarelas e azuis em seu estoque, que mais tarde seriam revendidas para a produção de pedras evolutivas – produto ilegal no mercado de Mai Teng. Dois milícias do grupo, justamente os dois que se depararam com o casal no hospital, aproveitaram a oportunidade para ter sua vingança…
Um deles partiu para cima de Yuusen, que por mais que tivesse reflexos rápidos para reagir e fosse bom de briga, não foi mais veloz que o cassetete em sua nuca. Tusken reagiu rapidamente, ganhando velocidade e investindo sobre o atacante de seu companheiro com um poderoso Tackle, atirando-o para longe contra o chão. Yuusen ainda estava tonto pelo golpe, apoiando-se no balcão do barracão a fim de tentar recuperar-se… Quando abriu os olhos, viu que o velho ancião já não estava mais lá. Assustado, olhou ao redor procurando reconhecer seu vulto misterioso no meio da multidão, sem obter sucesso.
– Pokémon imundo! – urrou o milícia atingido por Tusken – Morra, desgraçado!
O milícia usou sua pokébola, e de dentro dela, sai um pokémon horrendo. Apenas sua presença trouxe ainda mais pânico para a multidão. O pokémon humanóide feito de peças de metal, pés de borracha de pneu e corpo revestido por uma densa camada de material amarelo emitia um urro quase inorgânico… O BIODanger encarava Tusken nos olhos, segurando firmemente sua mangueira nos punhos fechados pronto para o combate.
– Você vem comigo! – um aperto forte puxou os braços de Natsumi para trás do corpo, imobilizando-a. Natsumi sequer precisou olhar para verificar que se tratava do mesmo pervertido que havia a assediado no Centro Pokémon.
– YUUSEEEN! – ela gritou em desespero, usando todo o fôlego de seus pulmões – YUUSEN, SOCORRO!!!
O jovem dono daquele nome olha por cima dos ombros, ponderando entre salvar sua companheira e vencer aquela batalha. Tusken, bufando furioso, raspou as patas contra o chão como um touro ao preparar sua investida, em seguida correndo em alta velocidade na direção de BIODanger. Antes que pudesse atingir seu oponente, uma fumaça negra e densa inundou sua visão, entrando em seus pulmões e provocando uma tosse intensa. Tusken sentiu-se mole, fragilizado… Aquele Smog o atingiu em cheio, e mal sabia ele que seu corpinho começaria a ceder à um poderoso veneno.
– Ooh, não! Tusken! – exclamou Yuusen, vendo a força descomunal que seu pokémon fazia para tentar ergue-se do chão. Sem sequer deixar seu oponente respirar, BIODanger avançou naquela direção e o atingiu em cheio com outro Tackle, fazendo-o rolar no chão – TUSKEN!
Durante este meio tempo, Sparkitty havia pulado na perna do agressor de sua treinadora, afundando seus dentinhos pontiagudos na batata da perna do soldado. O homem grunhiu de dor, vociferando palavrões horrendos e chutando com força a barriga do audacioso felino, fazendo o pequeno Sparkitty rolar com a força daquele homem. Natsumi o chamou pelo nome, e sua boca fora coberta por uma mão grossa enquanto uma faca apontava para seu pescoço:
– Não quer que seu namorado e seu pokémon sejam mortos na sua frente, quer?… – o soldado sussurrou em seu ouvindo. Excitado, lambeu o rosto salgado da jovem de forma grotesca, deliciando-se com o sabor de suor – Não quer ver eles sendo abatidos, como os porcos imundos que são? Então já sabe o que fazer. É só ficar quietinha…
Natsumi queria gritar, mas não podia. Sparkitty, com o rostinho ralado pela areia do solo, viu-se desesperado, sem saber o que fazer. Um passo em falso e ele poderia perder a própria vida – mas se não fizesse nada, sua treinadora estaria em perigo! As pessoas gritavam ao seu redor, o trotar de passos correndo no chão podia ser sentido à distância. BIODangers brotavam de todas as direções como ervas daninhas, enquanto o pobre pokémon assistia sua treinadora sofrer diante de seus olhos, passivamente esperando uma oportunidade para poder agir.
BIODanger preparava-se para um golpe mais forte. Tusken agonizava a dor de um corpo padecendo diante do intenso veneno a consumi-lo, sem conseguir sair do lugar. Yuusen balançou negativamente a cabeça, e uma força poderosa o impulsionou a disparar na direção de seu pokémon… Esta força, a mais poderosa do mundo, foi a que lhe deu coragem para atirar-se na direção de Tusken e protegê-lo em um poderoso abraço, defendendo-o dos golpes de BIODanger.
– Hah, essa eu quero ver! – bufou o milícia – BIODanger, acabe com os dois!
– Biioooorrrgh! – grunhiu o pokémon, programado para obedecer friamente o comando de seu mestre. Armou seu lançador na direção dos dois, estocando energia o suficiente para um poderoso Sludge.
– Tus!… – Tusken agonizou, como que pedindo para Yuusen largá-lo e ir embora para se proteger.
-Eu vou proteger você, Tusken! Aguente firme! – o coração de Yuusen batia forte, assim como o de seu pokémon – Mostre toda a sua força, que eu também mostrarei a minha!…
– Tu… Tuuuuuss! – Tusken grunhiu, rangendo os dentes e cerrando os olhos com força.
Natsumi foi colocada contra o muro. As mãos fortes seguravam as suas com força, enquanto a jovem se enchia de repudio ao sentir aquele macho alucinado se esfregando em suas costas e em seu corpo.
– Por favor, não machuque Yuusen e Sparkitty! Por favor, tudo menos isso! – lágrimas caíram de seus olhos, mas aquilo não o tocou. Pelo contrário, apenas estimulou ainda mais seus fetiches doentios…
– Não, não, não… Vê que eu jamais faria algo assim, gatinha? Quem vai sofrer bastante aqui é você!…
O chão começa a tremer sob os pés das pessoas nos arredores. Um tremor de Magnitude 6 atingiu aquela parte da cidade, causando dano severo aos BIODangers fracos a golpes do tipo terra. Barracas desmontaram e caíram, vasos e porcelanas foram destruídos, carroças viraram no tremor sísmico. Gritaria, afobação, pessoas sendo pisoteadas por uma multidão em fuga. A Feira Municipal sucumbiu ao caos, mas pelo menos, um humano e seu pokémon permaneciam são e salvos… Pela benevolência dos deuses.
– Tusken… Tusken, você está bem? – Yuusen quebrou o silêncio sepulcral, com o corpo coberto de reboco, ainda envolvendo Tusken em seus braços fortes.
– Tus… Tus-KEN!… – Tusken sorriu, feliz em ver que havia tido sucesso em sua tentativa. Seguro nos braços de seu dedicado treinador, sentiu que finalmente estava a salvo.
Mas o mesmo não poderia ser dito de Natsumi.
Um miado agudo de Sparkitty anuncia o que estava por acontecer. Uma coronhada atinge a nuca do soldado, fazendo-o grunhir de dor e diminuir a força nos pulsos de Natsumi. Aproveitando a repentina oportunidade, a jovem pisa furiosa na bota do soldado prestes a molestá-la. Ele grita novamente, ela o atinge com um soco por baixo do queixo e ele morde a própria língua. Uma sensação aguda de dor inunda sua boca como o sangue da língua ferida entre os dentes, e então, a jovem dá seu golpe final: seguindo a sequência de golpes de defesa pessoal que aprendeu, Natsumi atira o corpo do soldado contra o chão, imobilizando-o ao ameaçar raspar a faca em seu pescoço.
Uma sombra se formava sobre ela… Ao erguer a cabeça, Natsumi se depara com o homem que salvara sua vida.
O manto negro que envolvia o corpo do ancião cai de encontro ao chão. Um jovem rapaz agachado ergue-se lentamente, embainhando a espada que usara para dar a coronhada no soldado. Duas katanas (espadas usadas pelos guerreiros samurais) adornavam sua cintura, e uma armadura de cobre protegia suas pernas sob a hakama. Sandálias de madeira adornavam seus pés, envoltos por faixas de gaze até os joelhos, tão bem quanto suas mãos e braços.
Um alvo rosto jovial, cujos lábios seguravam um longo cachimbo entre os dentes, revelando seu disfarce. Uma grande tatuagem tribal podia ser vista surgindo na metade de seu peitoral, subindo pelo ombro e percorrendo todo o braço. Olhos verde-claros se destacavam em sua testa exposta, enquanto as laterais de seu rosto eram adornadas por mechas morenas, cabelos tão negros que não refletiam a luz do Sol. Seu cabelo rebelde, amarrado no alto da cabeça num corte samurai, tinha pontas espetadas como se fossem farpas.
Um gakuran negro adornava seus ombros, tremulando na brisa fria na manhã.
– Vocês me encontraram, jovens de Kumoichi – disse o homem – Sejam bem-vindos à minha cidade e de meus homens… Eu sou Konchou, foragido da lei e procurado pelo nome de Chouhariken no Banchou.
Continua…