Fanfic – Capítulo 3 – Parte 2

Oi, pessoal! Aqui vai mais um capítulo de Pokémon Banchou. Gostaria que me perdoassem a demora para postar, pois meu notebook deu problema e tive uma virose violenta >.< Muito obrigada por todos os comentários, lembrando sempre que críticas e sugestões são essenciais para o aprimoramento do artista. Continuem acompanhando a fanfic, e tenham uma boa leitura! ^^

Capítulo 3
O Segredo do Samurai (Parte 2)

– Vamos, Tusken – disse Yuusen, acariciando a nuca de seu pokémon – Abra a boca, você precisa tomar isso…

Relutante, o fatigado pokémon abre sua boca e deixa o spray amargo espirrar sobre sua língua. Super Potions nunca foram suas prediletas… No entanto, sabia que aquilo o faria se sentir melhor.

– Senhor Konchou! – disse uma voz masculina. Um homem usando um gakuran preto, de tronco nu e abdome enfaixado, estava acompanhado de outro vestido da mesma forma, tendo cada um uma espada de samurai na cintura. Surgiram e fizeram uma rápida reverência a Konchou, abaixando a cabeça e posicionando o punho contra a palma da outra mão – O senhor está bem?

– Estou, obrigado – virou-se para o casal, que também recebeu os cumprimentos dos homens de Konchou – Gostaria que me acompanhassem até nosso QG. Lá estarão a salvos, pois não demora até que mais tropas sejam enviadas até aqui.

O casal concordou em acompanhar Konchou. Os passos do samurai eram marcados pelo ressoar de sua armadura a balançar enquanto caminhava, enquanto o grupo se esgueirava pelas ruas a fim de evitar chamar atenção. Caminhavam em direção do horizonte, onde uma enorme torre de sete andares rasgava as nuvens de encontro ao céu… Mal sabiam Yuusen e Natsumi que aquela era a estrutura mais importante de Kuromachi: o Templo do Samurai.

A arquitetura oriental desenhando e erguendo suas paredes era requintada e verticalizada. Cercada por um frondoso jardim regado por córregos sinuosos, o som da água correndo era a única coisa que quebrava o silêncio dos arredores da torre. Caminhos de seixo branco cortavam a grama verdejante de encontro à entrada da torre, recebendo seus visitantes com um amplo pátio diante do enorme portão escancarado, de madeira vermelha e aldravas de ouro. Ao entrarem naquele novo ambiente, a sensação era de pertencerem a um espaço paralelo… O silêncio, a paz, o contato com a natureza… Aquele lugar místico parecia alheio à realidade de Mai Teng.

– Sejam bem vindos ao nosso lar – disse Konchou, esboçando um sorriso em seus lábios – O Templo do Samurai já foi uma das maiores academias de Mai Teng. Aqui, uma criança entra para sair como um homem de honra e valor. Mas isso já foi à muito tempo atrás…

– Algum dia a academia pode retornar às suas atividades?… – perguntou Natsumi, num tom preocupado.

– O Templo do Samurai continua a oferecer aulas de artes marciais e escuderia, mas não é a mesma coisa… Do que adianta a espada nas mãos, sem poder erguê-la em prol da justiça?

– Não desrespeitando sua profissão, senhor Konchou – disse Yuusen, virando-se para os dois – Mas apenas a espada não pode falar pela justiça… É necessário ter voz. Sei que seria ilusão acreditar que apenas palavras fossem mudar nossas vidas, mas é preciso muito mais do que violência para se conquistar a liberdade merecida… Sem guerra, não há paz, mas não significa que em todos os nossos conflitos precisa haver sangue derramado.

Konchou sorriu com as palavras de Yuusen. Uma sensação de nostalgia tomou conta de seu ser… Onde será que havia escutado aquilo antes?

Natsumi ficou orgulhosa de seu companheiro. Os pequenos pokémons pareceram confusos, mas estavam expressamente surpresos com a sabedoria daquelas palavras. Sem nada mais a dizer, Konchou decidiu levar o casal ao seu esconderijo secreto, onde ele e seus homens se reuniam todos os dias.

– Como vamos passar pelas portas? – perguntou Natsumi – Estão trancadas!

– Hoje é domingo – Konchou sorriu de forma simpática, como se fosse a coisa óbvia a se fazer – E não vamos usar uma porta.

Curiosos e confusos, Yuusen e Natsumi foram guiados pelos banchous até os fundos da torre. Círculos de grandes rochas brancas adornavam os fundos do jardim, ocultando o segredo por trás do Templo do Samurai…

– Espero que compreendam o quanto um esconderijo eficaz é importante para os banchous – comentou Konchou. Os dois concordaram com a cabeça – Várias vezes, tropas invadiram o Templo do Samurai à nossa procura, uma vez que todos acreditam que nosso esconderijo seja esse… O que não deixa de ser. Porém, mal sabem eles que não se deve subestimar a engenhosidade de um povo oprimido.

Konchou dilata uma pokébola na palma de sua mão branca. Uma sensação de adrenalina tomou conta de Yuusen: pela primeira vez, veria um banchou usando um pokémon! Que tipo de criatura sortuda deixaria a pokébola do Chouhariken no Banchou? Qual finalidade teria diante daquela situação, afinal? A pokébola toca o chão, e de sua luz branca, sai um grande e robusto pokémon inseto de quatro patas, de carapaça amarela e rija mordendo as pinças fora de sua boca.

Thunderoll de olhar gentil olhou para seu treinador, aguardando pacientemente seu comando. Yuusen nunca tinha visto um pokémon como aquele frente a frente, e mesmo ciente de que veria outros muito maiores em sua jornada, não pôde deixar de se surpreender. Tusken e Sparkitty, condicionados à vida entre quatro paredes, ficaram estonteados com tamanho pokémon do tipo inseto.

– Vamos lá, Thunderoll – assim disse seu treinador – Me dê uma ajudinha aqui.

– Purrrllll! – concordou o pokémon, posicionando-se ao lado de Konchou, com os braços apoiados em uma das pedras.

Com esforço, treinador e pokémon empurraram a pedra para o outro lado, até revelarem uma passagem secreta no chão. O casal mostrou-se surpreso, e antes de prosseguirem, Konchou pediu que seus guarda-costas mantivessem a vigia.

Conforme descia a escada de barro escavada no solo, Yuusen via-se mais engolido pela escuridão e sensação de claustrofobia. Tusken se agarrava em sua perna, enquanto os olhos felídeos de Sparkitty refletiam a pouca luz presente no lugar, como um verdadeiro gato na escuridão da noite. Ao término das escadas, Konchou tateia a superfície plana de madeira diante dele e a reconhece como a entrada de seu quartel general, forçando-a ao colocar pressão sobre ela e arrastando-a para o lado como um biombo.

Como num passe de mágica, um saguão de estilo oriental se revela diante do grupo. Estavam no subsolo do Templo do Samurai, cujos três andares ocultos eram refrigerados naturalmente por buracos abertos na superfície – igualmente escondidos pelos quatro cantos do jardim. Banchous iam e viam, cumprimentando seu líder e os dois acompanhantes. Um tatame revestia o piso, e uma grande mandala vermelha e branca adornava o fundo da sala. Konchou convidou o casal a se sentar nas almofadas diante da mandala, onde os três poderiam conversar mais a vontade.

– Muito bem, meus jovens – disse Konchou, como se fosse muito mais velho que os outros dois – Imagino que queiram contar melhor a sua história.

– Estamos procurando aliança com os banchous – disse Yuusen, com Tusken ao seu lado enquanto Natsumi abraçava Sparkitty diante dela – Deixamos tudo para trás, sabendo que novos recrutas são sempre bem vindos…

– Bom, isso é verdade – respondeu Konchou, preparando fumo para seu cachimbo, com Thunderoll se deitando atrás dele – Mas algo me diz que vocês não são tão inconsequentes quanto aparentam…

– Não, senhor! – respondeu Natsumi, impulsivamente – Meu irmão e Yuusen tem planejado esta viagem há meses… Eles sabiam inclusive onde e como encontrar cada um dos banchous.

– O que me leva a crer que a única inconsequente aqui é você? – Konchou perguntou com um estranho sorriso nos lábios, deixando Natsumi sem palavras e um pouco irritada ao ver Yuusen rindo baixinho da situação. Puxou um pouco de fumo pelo cachimbo, sentindo a menta sublimar no céu de sua boca e lhe trazer a sensação de prazer – O que me faz pensar…

Soltou a fumaça branca pelas narinas. O cheiro não incomodou seus convidados, muito mais concentrados no que Konchou estava para dizer – menos Tusken, com suas narinas sensíveis atingidas pelo aroma intenso do mentol.

– Como sabiam onde me encontrar? – perguntou o banchou.

– Bom… – disse Yuusen, sem muita certeza em suas palavras, chegando a suar frio – Meu amigo, Kenshiki, me deu sua localização na Feira Municipal.

– Kenshiki, uh? Que interessante… – Konchou agora sorria de forma assustadora, como se insinuasse algo – E porque ele não está aqui com vocês? Suponho que tivesse afazeres importantes em Kumoichi…

– Importantes pro seu próprio ego, isso sim! – Yuusen fechou os punhos sobre os joelhos cruzados – Acontece que Kenshiki traiu nossa amizade! Ele quis ficar para seguir os passos do pai dele, o professor Ochiba. Tentou até mesmo me impedir antes que pudesse fugir, me desafiando para uma batalha pokémon, dizendo se preocupar comigo…

– Eu imagino… Mas Yuusen, você acha que Kenshiki deu seu melhor? Quero dizer… – inalou mais fumaça e a expeliu pelas narinas – Acha que você, um treinador amador, teria alguma chance contra o filho do maior pesquisador de Mai Teng?

– O que o senhor quer dizer com isso?

– Não acredito que Kenshiki tenha se esforçado para batalhar com você, tampouco que tenha ficado para seguir os passos do pai. Acho que ele deixou você partir… Mesmo preocupado com você, ele o ajudou a arquitetar cautelosamente cada passo a ser tomado para a fuga dos dois. A razão pela qual ele realmente decidiu ficar está ligada ao fato dele deliberadamente deixar você ganhar a batalha contra ele…

– Me perdoe, senhor… Eu ainda não compreendi aonde quer chegar – na verdade, Yuusen temia saber aonde iria chegar.

Mais uma vez, Konchou pausa para aspirar a fumaça do cachimbo. Yuusen estava irritado com aquela atitude, com vontade de enfiar aquela piteira goela baixo! Aquela ansiedade deixava Natsumi mais nervosa, de forma que Sparkitty podia sentir arrepiar sua pelagem com isso. Os olhos do banchou se encontraram com os de Yuusen, acompanhando atentamente a reação do jovem adolescente às suas palavras:

– Apenas um banchou sabe onde encontrar o outro. Seu amigo Kenshiki é, na verdade, o Genshiun no Banchou… O herói da cidade de Kumoichi.

– Não… Não, isso não é possível! – disse Yuusen, até rindo descontraído de tão incrédulo – Absurdo. Ele não poderia ser o banchou de Kumoichi… Ou poderia? – olhou para Natsumi neste momento, imaginando que a outra soubesse de alguma coisa.

– Não me olhe deste jeito, eu não sei de nada disso! – exclamou a jovem – Senhor Konchou, o senhor tem certeza absoluta do que está dizendo?

– Tenho plena ciência disto. Seu irmão mais velho faz parte da nossa coligação. De tal forma que bastou olhar em seus olhos, pequenina, para ver Kenshiki refletido em sua alma… – Konchou sorriu novamente, como se nada de errado estivesse acontecendo.

– Já chega disso! Quantas mentiras, quantas fábulas ainda faltam para eu chegar a conclusão que não posso mais confiar nele?! – exclamou Yuusen, quase esmurrando o tatame no chão do subsolo.

– Foi para o seu próprio bem, Yuusen. A vida de um banchou é muito mais complicada do que já aparenta ser. Viver se escondendo pelas sombras da cidade, a cada dia arriscando sua vida e a de seus companheiros, evitar ao máximo despertar a desconfiança nas pessoas ao mesmo tempo em que deve protegê-las… Kenshiki cumpriu seu papel. Um banchou que realmente se importa com seus amigos não quer este tipo de vida para ninguém.

– Como pode ter tanta certeza? – questionou Yuusen, visivelmente irritado.

– Por que… Eu já perdi meus bens mais preciosos levando este tipo de vida.

Um silêncio sepulcral tomou conta da sala. Thunderoll pôde sentir a dor no coração de seu treinador… Assim como ele, testemunhou a morte da esposa e filha de Konchou nas mãos dos militares que incendiaram sua casa. Como foram tolos aqueles homens, acreditando que assim Konchou deixaria de cumprir seu papel como banchou e se entregaria junto com seus homens. Pelo contrário: o guerreiro samurai enxugou suas lágrimas, reerguendo-se ainda mais forte, construindo um esconderijo ainda mais secreto. Yuusen e Natsumi mostraram-se arrependidos, tocando numa ferida tão sensível no coração do corajoso herói de Kuromachi…

– Me perdoe, senhor… Não tive a intenção – disse Yuusen.

– Está tudo bem, Yuusen. Me sinto culpado por sacrificar aqueles que amava para levar a vida que tenho… Mas sinto-me na obrigação de vingar seus nomes, assumindo meu dever como banchou de meu distrito. O que não consigo entender é porquê Kenshiki colaborou na sua fuga de Kumoichi, sabendo que tinha obrigações a cumprir por lá. Ainda mais o desafiando para uma batalha pokémon!

– Queria eu mesmo poder compreender, senhor Konchou… – Yuusen mostrou-se chateado, confuso com relação aos próprios sentimentos – Queria eu poder entender…

Revolta, traição, omissão. Pôs a mão sobre o peito, agarrando o pingente de seu colar, apertando-o como se o fosse seu próprio coração. Aquela atitude chamou a atenção de Konchou, que ao atentar para os detalhes do pingente, teve seus olhos arregalados.

– Meu jovem – ele disse, se aproximando de Yuusen e tocando sua mão. O adolescente soltou seu pingente, e Konchou o pegou entre os dedos – Onde arranjou isto?

– Eu o tenho desde pequeno, senhor Konchou… Porque a pergunta?

– Eu… Eu acho que finalmente compreendo – Konchou sorriu mais uma vez, e desta vez, o fez com sinceridade – Esta é a razão pela qual Kenshiki se aliou ao seu plano para fugir de Kumoichi. Seus deveres como banchou o obrigaram a permanecer em seu distrito, enquanto a batalha pokémon não passara de um mero teste… Um teste para ver se você estava preparado para tal. É o seu destino prosseguir viagem, Yuusen! É o seu destino partir a procura dos banchous.

Os pêlos de Yuusen até se arrepiaram com aquelas palavras, enquanto tomava fôlego para ouvir o resto da mensagem do Chouhariken no Banchou.

– Ao deixar a cidade, siga para o distrito de Otsusa e procure pelo Ryoukushi no Banchou. Seu nome é Daichi, e ele vive nos arredores das antigas minas de shards. Procure-o, Yuusen, e muitos caminhos se abrirão para o futuro… Tão bem como pistas do seu próprio passado.

Yuusen olhou para o pingente em seu peito.

– Este amuleto é a chave para compreender suas origens, Yuusen… Um presente deixado para guiá-lo de encontro ao paradeiro de seu pai.

Yuusen arregalou os olhos. Era como se uma luz intensa inundasse sua visão, tão forte que parecia queimar seus órgãos. As peças de um confuso quebra-cabeça se encaixavam, produzindo uma imagem a qual Yuusen não estava preparado para ver. Mas precisava ser forte… Agora, mais do que nunca, sabia que deveria prosseguir sua viagem. Muito além do que a busca da liberdade, além da busca dos banchous: agora Yuusen buscaria a si mesmo. Na busca por seu sonho de dias melhores, desvendaria os mistérios que envolviam seu passado na mais densa névoa, agarrando com os dedos de órfão a oportunidade de saber de onde veio… E para onde iria.

Mais tarde, naquele dia, Tusken procuraria por seu treinador nos jardins do Templo do Samurai. Próximo a estátua do guerreiro Musashi, outro guerreiro procurava segurar seu pranto. Com a testa colada no braço encostado na estátua de mármore e cobre, Yuusen ocultava seu rosto avermelhado para novamente evitar mostrar fraqueza diante dos outros… Aah, estes humanos! Por que tem que ser tão confusos?

Tusken se aproximou e nada disse, abraçando a perna de seu treinador e sorrindo alegre. Ora bolas, aquela não era uma boa notícia? Então porque você estava chorando, Yuusen? Não adianta enganá-lo, Tusken sabia que você já havia chorado bastante com a notícia… E agora, seu peito finalmente havia parado se soluçar. Ao sentir Yuusen virando-se para frente, Tusken recuou e esticou os braços pedindo colo… O treinador, com um sorriso sincero, compreendeu seu pokémon apenas com um olhar. Afinal, eles eram um só. Compartilhavam a mesma ira, as mesmas lágrimas, e os mesmos sorrisos.

Muito, muito distante de Kuromachi – mais exatamente, do outro lado do continente -, erguia-se a Cidade Imperial. Por trás dos muros elevados que cercavam o distrito de Hianwuon, a sede do governo de Mai Teng encontrava-se em grande frenesi naquele final de tarde.

O Palácio Imperial. Diante da janela do mais alto escritório do opulento palacete, olhos famintos como os de um lobo pairavam sobre a paisagem aos seus pés… Aah, sim, sim. Tudo aquilo era seu. Tudo aquilo além do que seus olhos tocavam era seu. Um homem, grande e musculoso como um touro, aguardava pacientemente a chegada de alguém muito especial, com a calma e frieza de um general no campo de batalha, esperando sua armadilha mortal ser engatilhada…

Escuta batidas na porta de seu grande escritório. As portas se abrem, e um bradar forte se faz escutar.

– Vossa Excelência! O jovem Daisuke acaba de chegar. Devo permitir que o veja?

– Permissão concedida – a voz grave como a de um trovão atingindo um solo ríspido ecoou pela sala – Mande-o entrar imediatamente.

– Sim, senhor.

Capitães… O que os diferencia de quaisquer soldados ordinários, quando diante de seus superiores? Como marechal e presidente da república, o cargo de Gorou Shouta era o mais alto da hierarquia de todo o país. O uniforme negro apertava os músculos exagerados de seu corpo, envolto em patentes e distintivos dos mais diversos tipos. Escuta o som de homens marchando para dentro de seu escritório, e o anúncio da chegada de alguém muito especial. A tão rara sensação de plenitude tomou conta de Gorou, sorrindo em seu rosto marcado por tantos dias e noites de árduo treinamento, e um brilho raiou em seus olhos azul-escuros envoltos pelas grossas sobrancelhas brancas.

Um jovem adolescente aguardava na entrada de seu escritório. Era magro, com finos cabelos louros lhe adornando a testa e grandes olhos azuis por trás das lentes de seus óculos. Suas pernas tremiam, sentia-se intimidado naquele ambiente tão hostil. Ao ver aquela silhueta enorme formada contra a janela virar em sua direção, cercado de soldados de preto armados até os dentes, Daisuke engoliu seco. Finalmente estava cara a cara com aquele que diziam ser seu legítimo pai… Criado com mãe solteira numa mansão nobre e cheia de privilégios na Cidade Imperial, alheio à dura realidade de Mai Teng, Daisuke não tinha certeza do que pensar daquele encontro entre pai e filho.

– Não sabe o quanto me alegra conhecê-lo, jovem Daisuke… – disse Gorou, se aproximando com passos lentos, com os braços robustos atrás do corpo. Parou diante do filho, fazendo-o parecer ridiculamente pequeno diante dele – Meu único filho… Não sabe o quanto isso significa para um homem da minha idade!

– Eu imagino que muito, senhor… Pretendo cumprir meu papel de bom filho, para não decepcioná-lo em sua escolha de me adotar… – Daisuke sequer se mexeu, e chegou a suar quando as grossas mãos de seu pai biológico envolveram seus ombros magros.

– Isso jamais aconteceria. Vejo um futuro glorioso para você, Daisuke… Será meu sucessor, e herdará tudo o que eu puder dar de melhor para você. Vejo em seus olhos um reflexo de mim mesmo… Que bom que finalmente nos encontramos. Sei que, enquanto estivermos juntos, superará mais facilmente a morte de sua querida mãe…

– Digo o mesmo, meu pai… Assim espero.

Daisuke ficou cabisbaixo, sentindo novamente a perda de sua mãe, que morrera num acidente doméstico um mês atrás. Gorou sorriu largamente, lembrando-se do que havia dito ao seu leal major tempos atrás… Daisuke sequer desconfiava.

“Seu filho foi localizado, General. Como devemos proceder?”

“Traga-o até mim o quanto antes… Não há tempo a perder. Quero que venha morar comigo, sem a intervenção da mãe ou outros familiares”

“O que devemos fazer então, senhor?”

“Faça parecer que foi um incêndio…”