Oi, pessoal! Aqui vai mais um capítulo de Pokémon Banchou. Muito obrigada por todos os comentários, lembrando sempre que críticas e sugestões são essenciais para o aprimoramento do artista. Continuem acompanhando a fanfic, e tenham uma boa leitura! ^^
Capítulo 4
A Trilha da Floresta Mori
Após deixarem o distrito de Kuromachi, Yuusen e Natsumi deveriam partir rumo ao norte, atravessando a floresta Mori até chegarem ao distrito de Otsusa. Lá, o Ryoukushi no Banchou estaria à sua espera… O que será que este homem poderia revelar sobre seu passado? Como seria sua aparência, sua forma de agir, seu caráter? Enquanto procurava repostas para essas perguntas, Yuusen continuava a caminhar no mais absoluto silêncio, intimidando seus colegas de viagem com tamanha seriedade…
De repente, ele pára de andar. Natsumi, quieta, olhava para ele na expectativa de que Yuusen desse um fim naquele silêncio que a torturava. Tusken analisou a expressão preocupada de seu treinador, que logo assumiu traços mais severos.
– Natsu… – aquele tom de voz. Natsumi sabia o que ele iria dizer – Talvez… Seja melhor eu prosseguir sozinho.
– Não, Yuusen – ela respondeu prontamente – Não posso deixar que você continue sozinho. Acha que posso atrasar sua viagem?
– Acho – Yuusen a afrontou, virando de frente para a jovem adolescente – Além do mais, você viu o que aconteceu ontem… Sendo homem e responsável por você, preciso defender sua integridade como mulher. Mas até isso parece fora do meu alcance, e eu não quero que você se machuque mais… E também, eu não estou sozinho. Tenho Tusken ao meu lado.
– Acha que seu pokémon vai salvá-lo de uma rajadas de bala, Yuusen? – ela não disse com agressividade, mas aquelas palavras atravessaram o coração do jovem rebelde como uma navalha – Nossos pokémons correm o mesmo perigo que nós dois… E esse tipo de ferida não se cura em Centros Pokémon.
– Nem feridas mais internas… – Yuusen virou novamente as costas, como se tentasse evitar escutá-la – Natsumi, você não sabe… Você não tem noção do quanto é importante para mim – fechou os punhos e cerrou os lábios, procurando controlar a cora violenta em sua face para que ela não diminuísse a importância de suas palavras – Por isso não quero que me acompanhe mais… Não quero que se machuque mais. Você compreende?
-… Sim – ela respondeu, monossilábica. Sendo tão monossilábica, Yuusen entendeu que ela não havia terminado.
Permaneceram lá, em silêncio. Os pokémons acompanhavam com preocupação o desenrolar daquela conversa. A cabisbaixa Natsumi ergue o queixo, revelando as lágrimas que inundavam seus olhos castanhos.
– A razão pela qual você quer que eu volte… – seu nariz escorreu – É a mesma pela qual eu quero continuar ao seu lado, Yuusen!
– Natsumi, por favor, não insista! – Yuusen virou-se impaciente para ela, surpreso ao seu deparar com seu rosto avermelhado pelo choro.
–Insisto sim! Insisto porque sei que não posso voltar, pois assim como você, cometi grandes sacrifícios pela busca da liberdade! Insisto porque, mesmo que estejamos em perigo, estaremos juntos, Yuusen! Juntos somos mais fortes! Eu, você, e nossos pokémons! É um caminho sem volta, eu sei… – levou as mãos à face, cobrindo-a – Mas… Você é meu único caminho, agora!…
Yuusen se aproximou, envolvendo-a em seus braços num tenro abraço. E agora, Yuusen? O que fazer? A razão lhe ordena mandar aquela jovem de volta pra sua cidade e protegê-la desta vida de cão que você leva. Mas a emoção está gritando, implorando para que você levasse o amor de sua vida em sua jornada, não por mero egoísmo… Mas ciente do que o que ela dizia era verdade. Juntos, vocês eram mais fortes.
A decisão do coração, ao contrário do que se pensa, nem sempre é a mais fácil de tomar. Por sorte, sabemos que Yuusen faria a escolha certa…
– Ok, Natsu. Pare de chorar, okay?… Pare de chorar – ele disse, acalentando-a.
– Vai me mandar embora?… – ela soluçou em seu peito.
– Não. Apenas não podemos ter mais interrupções como esta… – sorriu, mesmo que Natsumi não visse – Senão, nunca chegaremos a Otsusa.
– Obrigada, Yuusen… – ela se distanciou dele, limpando o rosto – Eu prometo que não vou decepcioná-lo!…
– Não tem problema, Natsu. Sabemos que nós dois nunca teremos um relacionamento estável. É como uma gangorra… – ele sorriu com pena – Mas não quer dizer que ele não possa evoluir, se tornar algo mais… Forte. Ou até mesmo íntimo…
Tusken e Sparkitty se entreolharam com o canto dos olhos. Tensos. Seria agora, Yuusen?
– Além do quê – Yuusen juntou as mãos diante da boca e cerrou os olhos, limpando a garganta como se quisesse recompor sua “macheza” diante daquele lindo par de olhos castanhos, o fitando com os suculentos lábios entreabertos – Eu tenho certeza de que, até o final da viagem, você já será uma pessoa completamente diferente. Mais madura, crescida, opiniões formadas… Vai adquirir muito conhecimento e sabedoria, e isso será ótimo pra você.
– Está insinuando algo, Yuusen? – ela disse em tom sarcástico.
– Natsu, minha querida companheira de viagem… – e os dois voltaram a caminhar, enquanto Yuusen pousava a mão no ombro da jovem com um largo sorriso nos lábios – Todos nós, isso inclui vocês dois… – olhou para os pokémons a acompanhá-los, surpresos ao terem seus nomes citados na conversa – Que a vida que você tinha em Kumoichi estava alheia à realidade de Mai Teng. Por isso, acho que essa viagem lhe fará tão bem…
– Está me dizendo que eu sou menos nobre que você só porque nasci rica?
– Só digo que, tomando consciência da desgraça dos outros, a vida ganha muito mais sentido!
– Então estou no caminho certo. Já estou com uma desgraça como encosto! – e empurrou Yuusen para longe, sentindo os dedos hábeis do jovem rapaz deslizando pela lateral de sua cintura.
Tusken e Sparkitty não tinham mais certeza do que viam. A humana estava furiosa, mas corou… Evidentemente corou. Sendo a vermelhidão do rosto uma reação natural do corpo a investidas e ambientes hostis, é um sinal de que a pessoa está incomodada com sua situação. No entanto, conhecendo a irmã de Kenshiki como conhecia, Yuusen tinha certeza que ela não estava incomodada… Nem aos pokémons Natsumi conseguia enganar.
Ao subirem a rota principal que cortava a sombria e fechada floresta Mori, Yuusen e Natsumi estavam se acomodando ao ambiente a cercá-los. Sparkitty olhava os arredores com desconfiança, sempre alerta a movimentos suspeitos – enquanto seu colega, Tusken, farejava os arredores como se tivesse fome de ar. O orgulhoso felino desprezou aquela atitude, pois a agitação do espevitado dinossaurinho rompia sua concentração.
Mal haviam se aprofundado na floresta, e o casal se depara com um problema: a Polícia Federal. Grandes barreiras eram formadas nas rotas que ligavam à cidade de Otsusa, uma vez que a várias minas da cidade ainda estavam ativas e o contrabando de shards tinha que ser impedido. As shards, matéria-prima para a fabricação de pedras evolutivas, se tornaram ilegais por uma lei imposta pelo governo… Se os pokémons não podem evoluir, não ficam mais fortes e seu potencial é podado. Sem pokémons fortes, não há treinadores rebeldes.
Importante lembrar que essa não foi a única medida tomada pelo governo para avançar o crescimento dos treinadores pokémons. O ditador Gorou fechou todos os ginásio de Mai Teng – sem ginásios, os treinadores não avançam em sua jornada e ficam estagnados. Assumindo que pokémons podem ser tanto uma vantagem quanto uma ameaça ao seu império, o governo investiu em ciência e estudos em genética: produziu seus próprios pokémons. Tais monstrinhos são peças-chave na hora de controlar multidões, neutralizar batalhas pokémon e ajudar os soldados em seus afazeres… São os chamados Projeto BIO, pokémons de grande potencial e inexistentes na natureza.
Grandes filas de carroças e carretas se formavam na frente da barreira. Pessoas alinhadas uma atrás da outra esperavam o momento de atravessar para o outro lado da estrada. Soldados brutamontes eram rudes ao questionar e indelicados ao revistar cada humilde camponês, e arruaceiros ao revirar carroças e caminhões de cima a baixo. Natsumi recuou imediatamente, mesmo que não o quisesse, ainda traumatizada pelos acontecimentos passados… O casal discutia o que fazer dali em diante, até que uma senhora escuta a conversa dos dois e se aproxima com uma humilde pergunta:
– Me perdoem a intromissão, mas – sua voz rangia como as pregas de uma porta – Não pude deixar de notar… Vocês são treinadores pokémon?
– Está tudo bem, senhora – disse Yuusen, cordialmente – Sim, somos. Estamos presos nesta fila, e eu não quero que minha colega seja… Submetida a esse tipo de coisa.
– Eu compreendo perfeitamente. Venho e volto constantemente de Otsusa e Kuromachi, esses homens são como predadores… – as palavras da velha camponesa apenas assustaram ainda mais Natsumi – Mas… Há uma forma de evitar esta fila imensa.
– E qual seria? – perguntou a jovem, ansiosa por uma resposta.
– Há uma trilha aberta dentro da floresta. Como há muitos pokémons selvagens, não é seguro andar por lá sozinho… Mas tendo pokémons, vocês saberão se defender. Já estou velha, e se ao menos tivesse meu pokémon, poderia transitar entre Kuromachi e Otsusa sem dificuldades.
– Agradecemos muito o conselho, senhora – respondeu Yuusen, radiante ao ter a solução de seu problema – Por onde devemos entrar?
– Está logo ali atrás, entre aqueles arbustos – e apontou para uma parte da floresta – É só seguir reto que encontrarão uma estrada improvisada.
– Muito obrigada, senhora – Natsumi agradeceu – Tenha um bom dia!
E os dois partiram naquela direção, acompanhados de seus pokémons. A velhinha sorri de forma estranha… Ergue-se do chão, joga seu capuz para trás e leva o cachimbo comprido à boca. Konchou revela seu novo disfarce, olhando o casal sumir dentro da floresta, com um sorriso lhe desenhando os lábios.
– Eu que agradeço, pequena… – Konchou sorriu – Boa sorte.
A floresta Mori era um ecossistema singular naquela região de Mai Teng. As árvores eram altas e robustas, e suas copas eram tão densas que mal deixavam passar a luz do Sol. A escuridão em plenas dez horas da manhã era algo no mínimo inusitado… No entanto, era o preço a se pagar pelo uso da rota alternativa para Otsusa.
Subitamente, Sparkitty pára de andar. Suas pupilas azuis como o céu se contraíram, se eu corpinho se encolheu como se sentisse muita dor. Suas orelhas sensíveis captavam um ruído incômodo que apenas ele sentia. Natsumi preocupou-se, vendo seu gatinho encolhido e tremendo o chão, sem compreender o que estava acontecendo.
– Sparkitty! O que houve, querido?
– Tuuus! – Tusken rangeu os dentes, escutando um zumbido ressoar em sua cabeça, mesmo que não tão intenso quanto o de Sparkitty – Tusken! – virou na direção da mata fechada, identificando a direção de onde partia o ruído.
– Acho que eles estão sentindo alguma coisa, e nós não – concluiu Yuusen – Leve Sparkitty em seus braços, Natsumi. Vamos investigar!
– Certo – a jovem adolescente envolveu Sparkitty em seu tenro colo de busto generoso. O gatinho encolheu-se naquele calorzinho aconchegante, procurando evitar aquele barulho horrendo que o perturbava.
Ficava difícil entrar cada vez mais fundo na mata. As raízes das árvores eram grandes e empatavam o processo, o lodo deixava qualquer superfície pegajosa e as folhas secas no chão ocultavam muitos obstáculos. A fonte estava localizada numa clareira aberta entre as árvores, onde rajadas de luz solar rasgavam a copa silvestres e iluminavam um pouco do solo pedregoso.
– Oooww, Yuusen! Veja só isso! – exclamou Natsumi, com um ar de pena.
O perturbador ruído era emitido pelo vibrar das asas de um pequeno Scooterbug, um chamado desesperado por seus pais. O pobre besourinho estava tão tristonho que isso comoveu o coração mole da treinadora, chorando baixinho com saudades do pai e da mãe. Mas quando seu olhar ingênuo caiu sobre as duas faces a observá-lo entre os arbustos, o pokémon transformou-se: tornou-se agressivo e arredio, grunhindo para o casal.
– Opa… – disse Natsumi – Pelo jeito, você quer brigar, não é?
– Use seu Robin, Natsu – disse Yuusen – Nossos pokémons ainda parecem incomodados com o som das asas dele.
Foi isso o que a jovem fez. De sua pokébola, um corajoso passarinho preto surge pronto para o combate. Mergulhou em sua direção, pronto para desferir um Peck super-efetivo, quando é pego de surpresa por uma rajada flamejante partida das costas de Scooterbug, um Ember intenso produzido por suas glândulas internas. Natsumi não estava realmente se empenhando naquele combate, com pena do pobre filhote que não encontrava seus pais…
Esperava, ao menos, que seu plano desse certo. Aquela barulheira dentro da floresta chamaria bastante atenção, e era possível que os pais encontrassem seu filho. Na verdade, o que ela atraiu… Foi outra coisa.
Mas ainda não sabiam que estavam sendo observados. E a batalha prosseguia, sem que Robin obtivesse sucesso sob os comandos de sua treinadora.
– Natsu, você sequer está se esforçando! – exclamou Yuusen – Me dá licença? – Yuusen dilatou uma pokébola em mãos, e aquilo fez o sangue de Natsumi ferver.
– Não! Não faça isso, Yuusen!
No fulgor da batalha, os dois pokémons continuavam a se gladiar enquanto os treinadores disputavam por uma única pokébola. Tusken e Sparkitty acompanhavam a disputa confusos, enquanto os misteriosos expectadores aguardavam ansiosamente para saber como aquilo iria acabar… Sendo mais forte, Yuusen toma a pokébola das mãos de Natsumi e a atira na direção de Scooterbug, pegando-o de surpresa.
O barulho cessou na clareira da floresta, e os dois olhavam tensos para a pokébola movendo-se no chão. Quando o pokémon foi capturado, Yuusen não pôde deixar de comemorar com um largo sorriso nos lábios – enquanto a expressão de Natsumi se desfazia em seu rosto juvenil…
– Ahá! Consegui! – exclamou com alegria, pegando a pokébola do chão – Capturei meu primeiro pokémon! Um Scooterbug, inseto e fogo! Aaaah, moleque!
– Yuusen… Como pôde! – Natsumi disse tristonhamente, amenizando a euforia de seu parceiro – Esse pobre pokémon estava emitindo um chamado para encontrar os pais!
– E se não foi correspondido até então, isso só pode significar uma coisa… – dizia uma voz, surgida do esfregar das folhas entre os arbustos – Que infelizmente, seus pais estão mortos.
Natsumi assustou-se com a presença daquele garoto, e Yuusen estava de prontidão para protegê-la. Encheu o peito, analisando as características físicas daquele estranho: um jovem adolescente, provavelmente da mesma idade que a sua, mas baixo e magro. Uma bandana preta adornava sua testa, tão bem como as listras pintadas em seu rosto. Usava um colete ao redor do tronco que tinha três pokebolas em cada bolso, e botas de couro de solas espessas revestiam suas pernas. Sua atitude pegou de surpresa o casal de treinadores, deixando Natsumi confusa com o que ele havia acabado de dizer.
– Este pequenino já estava choramingo há muito tempo. Como os pais não o respondem, isso só nos leva a uma única e triste conclusão…
– Quem é você, e porque estava escondido aí atrás? – perguntou Yuusen, num tom de ameaça.
– Por favor, espero que não se incomodem! – a atitude do rapaz era sincera – Não quis assustá-los, mas não pude deixar de notar o quanto seus pokémons são bem treinados. Apesar de…
– “Apesar” do quê? – Natsumi leva as mãos à cintura, vendo sua capacidade como treinadora pokémon ameaçada.
– Eu entendo que você tivesse receio em atacá-lo, moça – o jovem disse para ela – Mas nem sempre podemos abaixar a guarda por termos pena de nossos adversários, especialmente aqui na floresta… Seu amigo aproveitou uma oportunidade de ouro, pois nem sempre se encontra um filhote de Scooterbug por estas bandas! Foi inclusive por este motivo pelo qual decidi investigar aliado à audição infalível da Monimie, pois vários pokémons do nosso acampamento estavam incomodados com o barulho… Como apenas um pokémon é capaz de produzir tamanho incômodo, vim de encontro a ele.
– Acampamento? Você tem um grupo?… – Yuusen mostrou curiosidade, erguendo uma das sobrancelhas.
Robin, fatigado, pousou no ombro de sua treinadora e recebeu um carinho na cabeça. Um pequeno felino, de pelagem roxa e grandes orelhas pontudas surge dos mesmos arbustos do jovem soldado, olhando sorridente para os arredores como se os cumprimentasse. Sparkitty arregalou os olhos ao se deparar com a pequena Monimie tão calma e concentrada, não mostrando cansaço ou fadiga diante daquele ruído infernal.
– Sou Yian, o líder de minhas tropas. Somos a Liga Revolucionária da porção ocidental de Mai Teng, e nossa base fica aqui na Floresta Mori!
– Hã? Mas o que – Yuusen mostrou-se incrédulo – Olha, eu só não duvido do que nada do que você disse só por causa dessa fantasia que você está usando. Mas agora, se nos permite?… – virou-se, segurando Natsumi pela mão, pronto para ir embora.
– Esperem! Eu acho que vocês não compreenderam – disse o jovem, ignorando a atitude intolerante de Yuusen – Somos uma facção secreta. Somos todos treinadores pokémon, nos reunimos em bases para treinar e aprender a nos defender das investidas do governo. Com os ginásios fechados, fica difícil tornar-se mais forte… Tanto para nós treinadores, como para nosso pokémons. Para isso nos juntamos e montamos nossos acampamentos, construindo uma aliança em nome dos treinadores pokémon de Mai Teng!
– Isso é excelente! Você não acha, Yuusen? – por breves segundos, Yuusen sentiu-se aliviado ao ver sua Natsu radiante novamente.
– Eu sei, mas… Esse negócio aí é sério? Eu ainda não tenho muita certeza do que pensar sobre isso – cruzou os braços, fazendo com que Natsumi fechasse a expressão para ele. Oras, e ele tinha culpa de não acreditar em tudo o que ouvia?
– Tão sério que temos uma parceria com os banchous.
Yian sorriu triunfante… Pôde praticamente ver a muralha que envolvia Yuusen despedaçar em mil pedaços com uma única sentença. Após uma curta conversa, Yian levou o casal até seu acampamento na floresta: várias barracas eram estendidas, com pessoas e pokémons andando de um lado para o outro como numa pequena vila. Tusken e Sparkitty nunca haviam se deparado com tantos pokémons convivendo juntos, se ajudando em tarefas diárias e convivendo dia a dia – não que Yuusen e Natsumi tivessem ficado menos impressionados com a organização do local.
Seus pokémons haviam sido curados numa barraca de primeiros-socorros. Era interessante ver aqueles quatro interagindo, era como se pudessem compreender uns aos outros! Robin era o líder de seu antigo grupo, o mais forte da revoada… A princípio foi difícil concordar em aceitar Natsumi como companheira, foi quando percebeu que uma jornada pokémon seria uma enorme oportunidade para se tornar mais forte. Só assim, poderia retornar para a floresta e cumprir ainda melhor seu papel de líder. Scooterbug era um jovem pokémon calmo e compreensivo, e teria o apoio do grupinho para superar a perda de seus pais… Como se ganhasse uma nova família.
-… Então, você entendeu porque não podemos nos juntar a vocês? – perguntou Yuusen, concluindo sua conversa com Yian.
– Sim, claro… Compreendo perfeitamente – disse Yian, externando parte de seu desapontamento – Seu sonho é nobre, Yuusen. Vocês devem partir à procura dos banchous, especialmente se seu destino está ligado ao deles… E ao nosso também. Sabem que podem contar conosco! Somos a infantaria a serviço de treinadores e banchous, e espero que tenha em mim um amigo com o qual você pode contar – e estendeu a mão para Yuusen num aperto caloroso.
“Um amigo…”, pensou Yuusen. Reminiscências de um passado agradável ao lado daquele que dizia ser seu melhor amigo sublimaram em sua mente. Yuusen permanecia a encarar a mão diante dele, lentamente esticando a sua para um aperto sincero… Acanhado, mas sincero. Yian tinha um dom excelente para um líder: ver através das pessoas. Depositou sua confiança em Yuusen, tão mais trabalhado mesmo que tivessem a mesma idade… Yian tinha fé de que, com a luta de Yuusen, ele e seus compatriotas teriam cada esforço, cada gota de suor pingada no árduo treinamento na floresta recompensada.
A saída da trilha dos treinadores os aguardava no horizonte. Yuusen e Natsumi se entreolharam, felizes pelas tantas descobertas que realizaram naquele dia… A entrada da cidade rural Otsusa, adornada por um enorme torii, os recebia de braços abertos. O Sol logo começaria a se pôr, e eles precisaram encontrar algum lugar para descansar. Caminhando entre as simples casas de alvenaria, a passos lentos pelas ruas de terra batida, Natsumi entrelaça seu braço no de Yuusen, pegando-o de surpresa mesmo diante de uma investida tão sutil… Mas significativa.
– Talvez fosse melhor que o Scooterbug fosse capturado, não é, Yuusen?… – Natsumi o disse com tranquilidade nos lábios, abrandando a tensão de seu parceiro – Agora, ele não ficará mais sozinho… Vai crescer e se tornar mais forte, e seremos sua nova família.
– Tem razão, Natsu… – a jovem sorriu, sentindo confiança nas palavras de Yuusen, contente em descobrir seu lado mais tenro. Já o rapaz, sentia-se mais aliviado com aquela demonstração de afeto partida da moça – Vamos cuidar bem dele. Além do mais, é o primeiro pokémon que eu capturei! Saiba que eu cuidarei dele como a um filho…
– Claro, Yuusen – o rapaz não gostou daquele tom de deboche – Sabemos que isso só foi possível porque eu batalhei contra ele…
– Só porque eu mandei!…
– Só porque eu tinha mais de um pokémon no time!
Antes que Tusken e Sparkitty testemunhassem mais uma discussão sem fim, os antes entediados pokémons se surpreendem ao verem seus treinadores literalmente desaparecendo diante de seus olhos. Foi tão rápido que parecia até mágica!
Ao acompanharem seus movimentos, os pokémons viram seus treinadores sendo levados por um grupo de grandes homens de gakurans negros como breu, balançando no ar enquanto corriam em alta velocidade entre as ruas da cidade. Com as mãos imobilizadas e bocas tampadas por dedos firmes, a princípio o casal tentou resistir, mas aqueles homens eram extremamente fortes e ágeis! Apenas podiam acompanhar seus passos, de encontro a um destino misterioso e assustador…
Viram-se entrando numa caverna. Lá dentro, duas tochas iluminavam um altar, adornado por uma enorme pedra com diversos dizeres talhados em sua superfície. Aquele era o local de descanso de alguém especial: especial o bastante para ser venerado pelos banchous de Otsusa…
… Especialmente por seu líder.
Os banchous abaixaram suas cabeças em obediência ao seu senhor. Diante dos olhos do casal, ergue-se um homem enorme antes sentado no chão. Seu gakuran tinha as mangas rasgadas na altura dos ombros, de onde braços musculosos como toras brotavam para fora. O tecido era desgastado pelo tempo e trabalho duro, e seus enormes pés descalços tocavam o chão com tiras de ataduras que envolviam suas pernas. Ao virar-se de frente, uma calça rasgada exibia as pernas e abdome definido enfaixados pela gaze, ombros largos e peitoral musculoso adornado por um colar de esferas espessas. Era um jovem maduro, mas sua expressão era severa, e seu olhar penetrante mergulhava fundo na alma de qualquer homem.
Seus cabelos eram rebeldes e castanhos, arrepiados para cima. De sua nuca partia um longíssimo rabo de cavalo bem preso pelas gazes, apenas parando na ponta dos fios espetados, simulando a cauda de um leão.
– Nós os trouxemos em segurança, senhor Daichi! – disse um dos homens, com uma voz viril.
– Da-Daichi?! – exclamou Yuusen – Então você, você é?!…
O homem enorme nada disse, apenas permanecia de pé com seus braços cruzados. Seus dois metros de músculos e olhar intimidador como o de um predador era o bastante para desafiar o maior corajoso dos oponentes… Analisava o rapaz diante dele cautelosamente, como se estivesse à procura de algo.
A procura de algo que o ligasse, algo que trouxesse de volta à ele… A expressão determinada, o brilho nos olhos, o corpo forte e até a forma de ofegar lhe trouxe de volta há dezesseis anos atrás – e principalmente, aquele amuleto adornando seu pescoço para fora da blusa branca entreaberta. Ao bater os olhos naquilo, Daichi arregalou um pouco os seus… Isso era tão raro que até seus homens sentiram-se inquietos diante de sua surpresa.
Ao deparar-se com aquele amuleto, Daichi pôde assim, finalmente, fez muitas conexões entre aquele garoto diante dele e seu velho e saudoso irmão mais velho.