Fanfic – Capítulo 5

Oi, pessoal! Aqui vai mais pequeno capítulo de Pokémon Banchou. Já saíram as artworks dos três treinadores pokémon de Mai Teng: YuusenNatsumi e Kenshiki! Muito obrigada por todos os comentários, lembrando sempre que críticas e sugestões são essenciais para o aprimoramento do artista. Continuem acompanhando a fanfic, e tenham uma boa leitura! ^^

Capítulo 5
O Alvorecer de um Passado

– Vocês demoraram a chegar – assim disse o poderoso Daichi, o líder dos banchous de Otsusa, o temido Ryoukushi no Banchou. O rigor em sua voz grossa fez estremecer as pernas de Yuusen, que não demonstrou fraqueza – Entendam que não estamos num playground. Este era o meio mais rápido e seguro de os trazerem até mim… Logo soaria o toque de recolher, e não haveria mais tempo para suas brincadeiras

-… – Yuusen, o desafiando com o olhar, finalmente cedeu – Nos perdoe a demora, senhor Daichi. Encontramos a Liga Revolucionária na trilha da floresta, e mal vimos o tempo passar. Não quis prejudicar o senhor ou qualquer um de seus homens… Me desculpe.

Natsumi nada entendia. Yuusen estava tão submisso! Porque não afrontou o banchou, como normalmente faria nesta situação, dado seu temperamento esquentado? Seria uma forma de tratamento, ou estaria mesmo intimidado pelo Ryoukushi no Banchou?…

– De onde você vem, meu jovem? – Daichi prosseguiu , aparentando menos severidade.

– Somos de Kumoichi. Deixei minha cidade à procura de aliança com os banchous, e em meu encontro com o Chouhariken no Banchou, em Kuromachi… Descobri que meu passado poderia estar ligado ao seu, senhor Daichi – Yuusen ficou cabisbaixo, temendo olhar aquele homem enorme nos olhos e ser repreendido por ele e seus subordinados.

– Não é hora nem lugar para falarmos sobre isso, Yuusen. Homens, vamos retornar para a base!

– SIM, SENHOR! – os membros de seu clã bradaram em uníssono.

A pedidos de Daichi, uma mulher foi encarregada de acompanhar Natsumi, afim de não deixá-la incomodada com a presença de tantos homens. Depois disto, a jovem pôde perceber a face generosa do severo e ríspido Ryoukushi no Banchou, passando a admirá-lo. Na calada da noite, homens e mulheres de negros gakurans marchavam ao contornar a cidade de alvenaria e terra batida, cujas janelas da humildes casinhas eram iluminadas pelo calor de lamparinas. Lares de famílias humildes, batalhando todos os dias pelo sofrido pão de cada dia… Ao cair da noite, tudo o que aqueles pais e mães mais queriam era ver o sorriso satisfeito e o brilho no olhar de seus filhos, dando graças por estarem vivos mesmo que em tão controversas circunstâncias.

Yuusen encontrava-se em um grande vão emocional. Tusken estava ansioso, sem saber como tirar seu treinador daquela fossa… Sparkitty, cabisbaixo, olhava sua treinadora conversando baixinho e tristonha com a mulher ao seu lado, uma moça adulta de longos cabelos castanhos preso num rabo de cavalo. Sentia-se incapaz de ajudá-la. Aah, se ao menos fosse maior e mais forte! Assim como Tusken, o gatinho elétrico sentiu que precisaria ser muito mais do que era no momento… Quis, o quanto antes, evoluir.

Só assim, poderiam estar mais preparados para proteger aqueles que lhes cuidavam.

Ao chegarem no quartel general dos banchous, foi necessário que cada um entrasse por um buraco aberto no solo, escondido nos confins dos bosques ao oeste de Otsusa. Ao pularem para dentro do buraco, um estreito corredor iluminado por tochas os guiava em direção a uma mina secreta. Lá dentro, um enorme carpete de design típico da região forrava o solo. Tochas iluminavam o enorme saguão aberto secretamente nas minas locais, com homens e mulheres preparando suas tendas e camas para mais uma longa noite de sono no esconderijo secreto.

O cheiro de comida cozida não os incomodava, pois assim como o esconderijo em Kuromachi, o quartel de Daichi era refrigerado por várias saídas de ar. As paredes eram adornadas por pedras cintilantes dos mais diversos tons: do vermelho ao azul, do amarelo ao verde. As shards, matéria-prima das pedras evolutivas, eram bem preservadas nas paredes da mina. O que mais chamou a atenção do casal foi o fato de, ao lado de uma barraca de madeira onde itens e mantimentos eram comercializados entre os banchous, erguia-se uma grande tenda onde as pedras evolutivas eram manufaturadas em segredo. Aquele era o lugar perfeito para vendê-las!

– Estão todos dispensados – Daichi virou-se para seus homens – Yuusen, peço que me acompanhe até meu escritório. E você, minha jovem… – virou-se para Natsumi, admirando aqueles grandes olhos castanhos o olhando com um misto de temor e inocência – Gostaria que deixasse Sana a auxiliar em seus afazeres.

– Sim, senhor… Obrigada, senhor – respondeu Natsumi, fazendo uma pequena reverência e olhando para sua acompanhante.

Yuusen engoliu seco ao encontrar-se a sós com Daichi. O forte banchou levou as mãos a uma cortina e afastou-a, adentrando o corredor que levaria até seu escritório. Yuusen admirou a coleção de adornos e peças típicas de Otsusa como jarros, máscaras e tapeçaria. Duas tochas no fundo iluminavam o grande assento de Daichi, uma almofada com duas menores diante dela.

– Quando Konchou me disse que você viria – disse Daichi, sentando-se em sua almofada cruzando as pernas fortes – Não pude deixar de pensar se ele havia finalmente pirado de vez…

Yuusen nada disse, mas não tremeu nas bases.

– Você sabe a história do amuleto que carrega em seu pescoço, Yuusen?

– Não, senhor… Mas humildemente peço que me explique. Konchou me disse que este amuleto e o senhor são a chave para o meu passado. Eu jamais imaginaria que esta jornada me levaria tão longe, por isso… Por favor, me diga qual a importância disto!

– Você quer mesmo saber?

– Sim, senhor. Mais do que tudo!

– Então acomode-se, pois essa é uma história longa…

Há muitos anos, quando o governo de Mai Teng era descentralizado, a cidade de Otsusa era regida por uma linhagem de bravos e sábios líderes. Após o golpe militar, o líder foi submetido ás ordens do governo… Incapaz de ver seu povo sofrendo nas mãos gananciosas do general Gorou, ele aliou-se aos banchous e valorizou o sangue de sua família mais uma vez. Perpetuou a coragem e vigor correndo em suas veias por meio de seus descendentes.

– Esse homem liderou por muitos anos o comando banchou de Otsusa – disse Daichi – Foi reconhecido por sua bravura, astúcia e generosidade com nosso povo.

Foi com amor e carinho com que este banchou criou seus dois filhos: Utada e Daichi. Daichi era o mais novo, e tinha por seu irmão mais velho Utada um enorme afeto fraternal… Brincavam juntos, treinavam juntos, e também choravam juntos suas perdas. Desde o sete anos, Daichi já treinava para se tornar tão forte e generoso quanto seu pai e irmão mais velho – naquela época, um jovem rapaz de dezoito.

– Poucos dias após Gorou assumir o poder, tropas de milícias trariam caos a cidade. Uma guerra sangrenta seria travada entre banchous e militares, no entanto, nenhum sangue seria derramado sob umaúnica condição… – Daichi apertou os olhos, sentindo uma dor imensa corroer-lhe o coração. Yuusen o olhou sem saber o que dizer, mas com a enorme vontade de confortá-lo – Meu pai deveria entregar-se aos militares. Toda a cidade o viu sendo assassinado em praça pública por uma salva de tiros… Sacrificou seu sangue em nome de centenas de inocentes. Não havia nada que eu ou Utada pudéssemos fazer! Não naquele momento…

Utada reergueu-se, tomando a bandeira banchou em suas mãos e assumindo seu papel como o novo líder rebelde. Seguiu as instruções dos conselheiros de seu pai, e conforme crescia, fazia jus ao nome de sua família. Era um ótimo líder, respeitado por seu povo, de amigos leais e um irmão que muito o amava e admirava… Daichi, mais do que nunca, se empenhou em seguir os passos de Utada como vice-líder banchou de Otsusa.

Um belo dia, em um áureo momento de sua juventude, Utada conheceu Agome. A doce e meiga camponesa encheu de luz o coração do bravo guerreiro banchou. Criado de forma caseira e com sonho de constituir família, Utada e Agome casaram-se e tornaram-se uma família. Daichi tinha apenas quinze anos quando viu seu sobrinho nascer, um pequeno e saudável bebê chamado…

– Não!… – Yuusen exclamou de olhos arregalados.

– Não fique tão surpreso… Eu ainda não terminei.

Poucos meses após o nascimento de seu filho, Gorou enviou suas tropas para Otsusa. No frenesi do combate e no calor das chamas que consumiam as casas, Daichi viu Utada e sua esposa sendo cruelmente assassinados pelo rugir de metralhadoras, com as silhuetas de seus corpos contra as labaredas balançando no ar a cada tiro como bonecos sem vida. Sem tempo para chocar-se, Daichi fugiu com o filho do casal, a salvo no esconderijo secreto sob as minas de shards.

– Seguindo o conselho dos demais banchous, deixei minha cidade em busca de refúgio. Acompanhado por rebeldes, eu estava longe de ter as condições necessárias para a criação daquele bebê…

Quanto mais Daichi falava, menos Yuusen parecia acreditar. Encontrou para a criança um lar no orfanato de Kumoichi, longe do caos que consumia sua cidade natal, podendo assim crescer cercado de amor pela família que viesse a adotá-lo… Deixou com o bebê o amuleto de seu irmão, morto diante de seus olhos numa labareda ardente, que seria a única pista de seu remoto passado órfão. O amuleto, o qual era idêntico ao usado por Daichi naquela época, simbolizando a união eterna entre os irmãos.

O nome deste bebê era Yuusen, o sobrevivente.

– Yuusen – disse Daichi – Diga alguma coisa.

– Eu… Eu não sei o que dizer, talvez – Tusken, que observava de longe, se aproximava cautelosamente – Talvez eu não… Não estivesse preparado para isso.

– Se veio ao meu encontro, certamente estava – disse o banchou – Por todos estes anos, carreguei nas costas a responsabilidade semeada de geração em geração por meus ancestrais. Mas você é diferente, Yuusen! Você está destinado à grandeza…

Os olhos de Yuusen se aguaram, diante daquele misto de sensações. Não piscava, e seus lábios apertados mostravam a intensidade estas sensações…

– A energia que te deu forças para jogar tudo pelo ar e partir mundo afora, vai te dar a mesma força para perseverar em sua jornada. Agora que sabe de onde veio, descubra que caminho tomar para o futuro, Yuusen! Seus pais morreram por um ideal, e este ideal vive em você! – o banchou, pouco acostumado a abrir o coração, ainda sim não temia externar a sinceridade de seus sentimentos – Eu nunca pensei que fosse ter meu irmão comigo novamente, mas olhando em seus olhos!… Eu vejo Utada, Yuusen. Vejo o reluzir de sua juventude, a nobreza de seus objetivos e o ardor em sua alma.

– Todo esse tempo, achei que estivesse sozinho… – Yuusen disse cabisbaixo, num tom misterioso que preocupou Daichi. Sua mão tocou a testa rochosa de Tusken, seu pokémon, que o observava ao seu lado – Mas agora vejo que nenhum de nós dois está mais sozinho… Não é isso, meu tio?

Há tempos, Daichi não sabia o que era sorrir de verdade. Os dois apertaram os olhos entre as testas franzidas, e envolveram seus corpos num abraço caloroso. Como as peças de um enorme quebra-cabeça a ser reunido, eles completavam um ao outro dentre tantos pedaços espalhados pelo mundo.

– Essa mesma força que o trouxe até mim nos manterá juntos… – disse Daichi, de certa forma emocionado – Todo esse tempo, sem nunca saber!… Eu temia nunca mais encontrá-lo.

– Limpa esse choro, tio – disse Yuusen, ao separarem-se sorrindo – Não quer que seus homens te vejam assim, quer? – aquilo causou risos em Daichi.

– Tuskeeeen! – o dinossaurinho abraçou-se a Yuusen, e o jovem rapaz o toma em seus braços e faz cócegas em sua barriga, arrancando risadas gostosas.

– Então, foi este malandrinho que você escolheu como parceiro, Yuusen?… – Daichi acariciou a testa de Tusken, que se deixava tomar pelo afeto de ambos. Era mesmo difícil negar que Daichi e Yuusen eram fossem parecidos – Zele por ele, Yuusen. Não há criatura mais leal neste mundo do que seu pokémon.

– Sim, senhor. Nós dois vamos crescer e nos tornar fortes, pois só assim, conseguiremos atingir nossos objetivos…

– Bom, nossa conversinha calorosa acaba aqui – Daichi ergueu-se, caminhando em direção a cortina que cobria a entrada de seu escritório – Quero que tome um banho e vá dormir. Amanhã partiremos ao amanhecer.

– Sim se-espera! Como assim, “partiremos”? – Yuusen mostrou-se surpreso.

– Por que está me perguntando isso, garoto? Não é óbvio? Você e a patricinha não podem sair sozinhos pelo mundo como se nada estivesse acontecendo! – cansado de segurar a cortina, Daichi atravessou-a e caminhou pelo saguão principal de seu esconderijo com as mãos no cinto em seus quadris – Vocês não aguentariam mais três dias por conta própria… – sorriu debochado.

Yuusen ficou feliz com a ideia, mas não quis externar isso. Seu tio Daichi o havia desafiado, afinal! Por mais que sua companhia fosse excelente, de tal forma que agora o grupo estaria mais forte e preparado, não podia deixar o banchou sem resposta – mesmo sendo seu tio e sendo o intimidador líder rebelde de Otsusa. Yuusen tinha seu orgulho, e estava na hora de mostrá-lo!

– Aaah, não somos tão indefesos assim, não me subestime por não sermos brutamontes truculentos como você! – disse com confiança.

– Aah, não? – Daichi levou sua enorme mão de encontro á testa de Yuusen, agarrando sua cabeça. Grande daquele jeito, qualquer esforço que o Yuusen fizesse (mesmo sendo forte como era) seria em vão adiante da força massiva do banchou de Otsusa – Pfff… Vão virar churrasquinho de soldado – Daichi palitou os dentes com apatia.

– Ei, isso não é justo! – Yuusen segurou o braço enorme de Daichi – Tira essa tora da minha cabeça e você vai ver quem vai virar churrasquinho de soldado!

– Está me desafiando, seu moleque?! Está mesmo tentando intimidar a mim, o banchou da grande Otsusa? Não sabe o que diz!

– Deixo meus punhos falarem por mim!

Os dois gargalhavam da situação… Eram mesmo dois cabeçudos, compartilhando o mesmo sangue. Natsumi observava de longe a discussão dos dois e não compreendia o porque daquilo, mas simplesmente sorriu também. Por alguma razão, seu futuro parecia mais brilhante. Aquele seria apenas o começo de sua jornada, como se sua plenitude dependesse da de seu amado Yuusen, agora provido do mesmo direito que a jovem tivera por todos esses anos… Uma família de verdade.