Fanfic – Capítulo 6

Oi, pessoal! Aqui vai mais um capítulo de Pokémon Banchou! Muito obrigada por todos os comentários, lembrando sempre que críticas e sugestões são essenciais para o aprimoramento do artista. Continuem acompanhando a fanfic, e tenham uma boa leitura! ^^

Capítulo 6
Caminhos Opostos

– Para onde estamos indo, pai? – perguntou Daisuke, andando ao lado de seu pai, Gorou, por um longo corredor mal iluminado por lâmpadas oscilantes no teto.

– Daisuke, você foi criado cercado de amor e carinho mesmo na sua condição de órfão de pai… – disse o general, já não mais assustando o adolescente ao seu lado, acostumado com o vigor de sua voz – Eu não viverei para sempre, por isso, preciso prepará-lo para o amanhã.

– Que amanhã, pai?

– Oras, Daisuke, seu amanhã como futuro líder deste país! Você terá toda uma nação que se curvando diante de seus pés, tão bem quanto os outros continentes que além-mar. Terá que aprender a administrar nossas potências militares e naturais, tão bem quanto adquirir o caráter de um verdadeiro líder. Agora que finalmente o encontrei, não pouparei esforços para educá-lo no caminho certo… Você se tornará um homem respeitável e digno do cargo que carregará em seus ombros, o início do legado dos Shouta sobre Mai Teng!

Gorou arrepiou-se com as próprias palavras, mas o mesmo não poderia ser dito de seu filho…

– Não sei se estou preparado…

– NÃO DIGA BESTEIRAS! – Gorou fechou os punhos e gritou para Daisuke, com sua voz ecoando pelo corredor de metal – Você mal começou seu treinamento, como pode dizer que não está pronto?! Você carrega meu sangue em suas veias, ninguém é mais apto para receber este cargo que você, Daisuke! Não me questione mais sobre isto, você entendeu bem?!

– S-sim senhor!… – Daisuke, antes encolhido e intimidado pelo pai, adquire postura ereta responde prontamente, sem encará-lo nos olhos pela humilhação a qual fora submetido – Sim, senhor…

Gorou lentamente abriu as mãos grossas. Viu o temor refletido nos olhos azuis por trás dos óculos de Daisuke, e acalmou seus nervos. Os dois prosseguiram sua silenciosa e torturante caminhada pelo corredor, com botas rangendo contra o forro laminado, que parecia contar os passos de Daisuke de encontro a um destino desconhecido… Pararam diante de uma porta com barras de metal, que foi aberta revelando uma sala de neblina branca. Era frio lá dentro, de forma que algumas caixas eram cobertas por gelo fino, tão bem quanto outras coisas que fizeram Daisuke quase cair para trás com tamanha surpresa.

– Bem vindo ao nosso abatedouro, Daisuke – disse Gorou, com um sorriso espontâneo e macabro nos lábios – Alguns dias aqui dentro e você se tornará um novo homem. Mal vai se reconhecer quando sair daqui…

– O que quer que eu faça? – perguntou seu filho, temeroso.

Enquanto Gorou se ausentou por um breve momento, os olhos de Daisuke pairavam sobre o local como se o fosse uma eternidade… Olhava aqueles pokémons bovinos, com a pele arrancada e músculos enrijecidos pelo frio, cobertos por uma rente camada de gelo marcada com seu sangue, suspensos e enforcados por uma barra de metal, onde seus corpos sem vida eram pendurados como enfeites numa janela. Aqueles Tauros, pobres criaturas, vivendo e crescendo por um único propósito… O de satisfazer a gula do homem.

– Tome isto – Gorou pôs em seus braços um cortador elétrico de lâmina dentada. Não apenas o contrate do físico entre pai e filho era gritante, como também a força de cada um: o general erguia com facilidade a ferramenta pesada que levou os braços de Daisuke de encontro ao chão – Quero esses animais transformados em picadinho quando eu voltar. Dê o seu melhor, Daisuke, pois não cobrarei menos do que isso…

– Por que eu tenho que fazer isso, pai? Eu ainda não entendi.

– Quando deixar este frigorífico, você entenderá – disse Gorou, pronto para fechar a porta e sair – Apenas siga e obedeça as orientações de seus supervisores, eu voltarei em breve.

O frio insistia em entrar nas roupas do franzino Daisuke. Seus olhos estavam secos, até que um dos soldados trajado de preto e de ereta postura lhe estende um protetor para os olhos. Temeroso, Daisuke remove os redondos óculos do seu rosto e coloca a máscara, ligando o cortador elétrico e respirando fundo… Que os deuses tivessem piedade dele.

Ganchos se abrem, e o corpo rijo de um musculoso Tauros congelado cai sobre a bancada de mármore, emitindo um estrondo alto com o impacto. Os supervisores aguardavam em severo silêncio. Intimidado, Daisuke engole seco e olha nos olhos vazios daquele pokémon enorme cuja pele fora arrancada para o abatimento. Seus dedos magros fecham em punho na liga do moto, puxando-a e ligando a máquina que tremia vigorosamente em suas mãos… A lâmina dentada gemia um tindar agudo, o motor roncava com vigor. Feche os olhos se quiser, Daisuke… Com o tempo, você não terá mais medo ou repulsa.

O plano sórdido de Gorou era bastante eficaz. Ao mandar seu temeroso filho para um abatedouro todos os dias, ele acostumaria o menino a retalhar corpos até que isso se tornasse natural para ele. Daisuke sairia de lá completamente apático ao ato de dilacerar a carne em mil pedacinhos, como se a vida se tornasse insignificante aos seus olhos. Essa era a primeira de uma série de práticas e testes que moldariam a mentalidade e o caráter do homem que Daisuke deveria se tornar, para assumir o papel futuramente deixado por seu pai. O homem que Gorou moldava como a um vaso de barro… Até que atingisse a forma que mais lhe agradasse.

Enquanto Daisuke era encaminhado numa estrada da qual não se tinha volta, as esperanças do banchou de Otsusa também eram depositadas em seus futuros herdeiros…

– Você não tem fibra alguma, moleque – disse Daichi, de braços cruzado e olhando para o horizonte infinito coberto pela cadeia de montanhas e banhado no manto celeste da noite – Nem parece que é meu sobrinho.

– Ei, não sou um bicho-do-mato como você! – exclamou Yuusen, visivelmente irritado, agachado de joelhos na beira do lado com as calças jeans molhadas – De onde eu vim, nós compramos e estocamos alimento, para não passarmos por situações como esta!

– Acontece que você está bem longe de casa, moleque – Yuusen o ignorou, tornando a fitar a água reluzente do lago a refletir a luz da Lua – Somos procurados, e nossa comida não vem embalada a vácuo. Esse é um luxo com o qual você não pode mais contar, portanto, aprenda a pescar antes que eu tenha que te atirar no meio desse lago pra nadar junto com os peixes!

Yuusen suspirou longamente, exausto e frustrado. Seu estômago roncava e doía, pois já não comia há mais de doze horas. Natsumi observava os dois de longe, comendo o pouco da ração que lhe sobrara – como alguém com o porte de Daichi no grupo, não era de se admirar que seu estoque de alimentos acabasse rapidamente. E pensar que seu jantar naquela noite havia sido cedido por Yuusen… Agora, o via batalhar arduamente apenas por um pouco de comida. O sentimento de culpa tirou o gosto do alimento e o tornou insosso, e a jovem estava obviamente cabisbaixa. Sparkitty a olhou longamente por um momento, satisfeito com sua refeição – mesmo assim, decidiu tomar uma atitude.

Tusken olhava triste para a água. Lambia os lábios faminto, como desejava aqueles Lummets gordos e suculentos nadando no fundo do lago! Sparkitty se aproximou dele, e Tusken virou em sua direção… Ao invés de sentir inveja pelo fato de seu companheiro estar bem alimentado, Tusken estava feliz em vê-lo satisfeito. No entanto, se surpreendeu ao perceber que Sparkitty o convidava para o interior do bosque, disposto a aprenderem juntos como caçarem suas próprias presas.

Tusken ficou arredio, olhando por cima dos ombros e vendo Yuusen enrolando o carretel de sua vara de pescar com dificuldades sob a constante avaliação de seu tio, o Ryoukushi no Banchou. Contrariado, ele pensou em negar o convite de Sparkitty, que ergueu uma de suas sobrancelhas com um olhar apático. Era como se dissesse: você vai MESMO esperar ele pescar alguma coisa? Infelizmente, Sparkitty estava certo… Ou eles aprendiam a caçar como pokémons de verdade, ou passariam fome.

A fogueira formada de pedras e madeira crepitava suas labaredas, rompendo o silêncio e a escuridão da mata. Os passos silenciosos do pequeno felino tinham sua sagacidade rompida pelo andar desajeitado do dinossaurinho marrom, fazendo com que Sparkitty repreendesse Tusken com o olhar. Enfiaram-se no mato, sem levantar a suspeita de seus treinadores, cada um envolvido em seus pensamentos.

– Senhor Daichi – disse Natsumi, ainda temerosa em chamar o respeitoso banchou apenas por seu primeiro nome – A que horas passa o expresso matutino?

– Às dez horas, é provável que esteja parando na estação que vimos na estrada – Daichi respondeu, olhando para Natsumi sem sair perto de Yuusen – É a forma mais rápida de chegarmos a Wotsushi. Quando ele parar, vamos subir por trás dos vagões e ficar nas carretas de carvão.

– Não há perigo de sermos pegos pelas milícias?

-Há perigo de sermos pegos a qualquer momento – suas palavras foram secas – Mas não se preocupe quanto a isso… Já alertei o Aiji no Banchou de nossa chegada, e seus homens estarão nos aguardando na estação e sairemos antes que comecem a descarregar os vagões.

Viajar clandestinamente num vagão de carvão… Não era exatamente o que você esperava de uma aventura épica ao lado do seu amado, não é, Natsumi? A jovem não gostava de pensar que estava, de certa forma, arrependida de ter ido embora. Olhava para o céu, e procurava atingir sua casa, seu aconchegante lar… Mas nem as estrelas que via no céu eram as mesmas de Kumoichi. Procurava mostrar para Yuusen e Daichi que não era tão fragilizada, e aparentava ser durona para não externar a saudade que sentia do luxo e do conforto, coisas tão paralelas à vida de um banchou…

Talvez Yuusen estivesse certo, afinal. Natsumi ainda não estava pronta para isso… Não ainda.

Yuusen, mal-humorado, lançou mais uma vez sua vara de pescar. O anzol voou para longe, pousando no centro do lago, lentamente afundando de encontro aos cardumes de Lummet escondidos entre os platôs. Os pokémons selvagens, espantados com o movimento da água, se sentiram assustados com o anzol fundando cada vez mais rapidamente ao seu encontro – ao mesmo tempo em que eram covardemente seduzidos pela isca suculenta dando sopa diante deles. Quem dera apenas fosse tão fácil assim na natureza…

Tusken e Sparkitty estavam exaustos… Eles sequer sabiam por onde começar, e quando viram, estavam arfando nos recantos mais profundos do bosque. Completamente perdidos. Sparkitty olhava ao redor, procurando alguma dica, algum nuance que lhe passara despercebido como uma forma de voltar por onde vieram. O dinossaurinho, usando seus instintos, ergue a cabeça para o alto e começa a emitir um longo grunhido. Um grunhido monossilábico, como um uivar longo e solitário, o chamado de um filhote perdido em busca da mãe…

…Mas foi em vão. Sparkitty, sujo de lama, observava com um olhar triste seu companheiro continuar a chamar por seu treinador, sem obter resposta.

– Miah!… – disse Sparkitty, esgoelado, pedindo para Tusken não fazer mais aquilo, pois apenas o deixaria mais desesperado.

– Tus… Tusken! – disse o pequeno dinossaurinho, apertando os olhos e vertendo lágrimas. Começou a chorar, pois estava com medo e com fome, perdido no meio da floresta, sem saber como voltar…

Sparkitty se aproximou. Como um pokémon com o qual fora criado junto por tanto tempo poderia ser tão diferente dele? Mesmo sendo arrogante em alguns momentos, o valente felino era um amigo leal: se aproximou de Tusken e esfregou a cabeça na sua, tentando confortá-lo… No entanto, suas grandes orelhas captam o som de folhas se movendo, e seu companheiro Tusken sente sua apreensão. Com os quadris erguidos em posição de combate, Sparkitty olhou na direção daquele som, da qual uma grande silhueta negra se formava entre as árvores.

Sozinhos, com fome e com frio – e agora, atocaiados. Os pequenos pokémons estavam assustados. O vulto movia-se como um humano, mas era diferente… Era grande, poderoso, e tinha olhos vermelhos como sangue. Quando a grande figura revelou-se, ambos fecharam seus olhos com força, temendo estarem diante de seu fim.

– Não me temam. Não vou machucar vocês.

O pokémon disse. Aquele ser humanóide de escamas e grande e respeitosa cabeleira ruiva segurava ossos grandes em suas mãos, enquanto um crânio adornava sua cabeça tão bem quanto outros menores formavam um colar em seu pescoço. Se comunicava como um pokémon, mas por alguma razão, suas sentenças eram mais elaboradas…. Ele não parecia exatamente inteligente, mas sim, elevado espiritualmente.

– Vim levá-los de volta para o acampamento. Seus jovens treinadores estão preocupados… E com toda razão. Estamos em tempos difíceis, não podemos sair dessa forma pela mata mesmo que as circunstâncias sejam adversas.

– Miah… – Sparkitty ficou cabisbaixo, como que pedindo desculpas… Afinal, a ideia havia sido dele.

– Tusk… Tusk! Tusken! – Tusken estava reclamando de algo. Disse para o pokémon que estava cansado de ser pequeno, frágil, incapaz de ajudar Yuusen ou de alimentar-se direito. Queria ser maior, forte e independente como aquele pokémon, e que nada adiantaria se continuasse fraco daquele jeito.

– Nossos treinadores contam conosco. Muito além de pokémons, somos amigos… Algumas pessoas condenam o uso de pokemons para batalhar entre si, tão bem quanto pokémons selvagens se recusam a trilhar seu caminho ao lado de um humano. No entanto, nossas existências nos completam, pois o homem encontra no pokémon o mesmo que um pokémon procura no homem: o crescimento. Humanos e pokémons crescem lado a lado, tornando-se mais fortes e sábios, pois a evolução é muito além de uma mudança física… Ela é um estado de elevação espiritual.

O dois pequeninos estavam boquiabertos. O grande réptil balança sua cauda, tão grande e poderoso que podia se sentir sua respiração.

– Tusken? – o dinossaurinho perguntou seu nome.

– Chamo-me Utamatowake. Vejam bem, pequeninos… Um Cubone só nasce com a morte de sua mãe. O crânio que leva em sua cabeça é sua única proteção, e o fêmur é sua única arma. No entanto, assim como outros pokémons, ele evolui e se aperfeiçoa… A morte é um recomeço, tanto para quem vive quanto para quem deixa de viver. Quando crescerem, vocês entenderão… O desafio está apenas começando, pequeninos. Mas enquanto tivermos uns aos outros, nada estará perdido.

As sábias palavras daquele pokémon emocionou e abrandou o coração de seus pupilos. Tusken, com os olhos brilhando, se aproximou e abraçou Utamatowake, que observou aquilo em silêncio. O sábio pokémon sorriu, acariciando a cabeça daquele afetuoso Tusken com sua mão enorme, enquanto Sparkitty apenas sorria satisfeito.

– Eu e Daichi temos uma relação especial. Anos e anos de amizade, lapidados por alegria e afeto – mas também por dores e perdas. Momentos bons e ruins que nos aproximam e, superando juntos, crescemos juntos e nos tornamos mais sábios… Olhem bem por seus treinadores, pequeninos, pois eles serão amigos para toda a sua vida. Vamos voltar.

Abrindo passagem entre a mata espessa, uma trilha marcada por folhas amassadas os guia para fora do bosque. Nos arredores da lagoa, a fogueira já assava a janta recém pescada (finalmente!), mas a fome de Yuusen pareceu momentaneamente desaparecer… Andava de um lado para o outro, nervoso e apreensivo, preocupado com os pokémons desaparecidos dentro da mata. Ao ouvir o chamado e a passada desengonçada de seu querido dinossaurinho saindo de dentro do matagal, Yuusen disparou em sua direção com um largo sorriso nos lábios, feliz em encontrá-lo são e salvo.

Yuusen se ajoelhou e o abraçou com força. Tusken nunca havia o visto tão preocupado, e aliviado! Utamatowake estava certo… Yuusen era intenso, bancava o durão, e ás vezes era um pouco grosseiro – mas eles precisavam um do outro. Seu momento esta próximo… Tusken sentia essa energia diferente circulando em seu sangue, uma luz que surgiu do fundo de seu coração. Um calor intenso que abrasou seu corpo de dentro para fora, acabando por externar-se em sua pele.

Tusken abriu seus olhos e eles emitiam uma intensa luz branca. Esta energia envolveu seu corpo, e suas cordas vocais modificadas produziram um longo rugido – diferente do seu chamado infantil reptiliano. Ele cresceu, ficou mais alto, forte e maduro. Seu focinho de alongou, seus bracinhos e pernas gordinhas transformaram-se em garras poderosas e coxas firmes. Sua carapaça desenvolveu-se, enrijecendo a proteção em volta de sua cabeça até a ponta de sua gordurosa cauda… O chifre em sua testa cresceu, e o rubor de seus olhos perde a ingenuidade de criança e ganha a sagacidade de um dinossauro adulto.

“O que leva um pokémon a evoluir?…”

Yuusen, jogado no chão, protegia sua face do calor emitido durante a evolução de Tusken. De longe a observar, um pequeno gatinho suspira longamente, igualmente tocado pela intensidade daquele momento e revestido pela mesma luz, assustando a treinadora que o acariciava.

“Pokémons evoluem quando estão em combate, ou quando entram em contato com certos cristais, outros quando passam de um treinador para o outro… Na verdade, a energia que permite suas evoluções é a mesma… O sentimento que queima o espírito, enchendo-o de luz.”

Sparkitty encheu seu orgulhoso peitoral. Sua cauda desceu, seu pescoço se alongou, suas patinhas frágeis tornaram-se pernas fortes de patas grandes e poderosas. Vários espinhaços azuis brotaram de seu corpo, e a energia elétrica captada por deles podia ser sentida à distância. Seus caninos cresceram para fora de sua boca, e seu olhar azul elétrico nunca fora tão vivaz…

“Os cristais possuem uma energia que engatilha aquele pokémon a evoluir. O misto de sensações causadas pela troca de pokémons (ira, melancolia, medo ou animação) também produz energia. Quando um pokémon batalha dando o melhor de si, em sintonia com seu treinador, seu espírito em chamas é tomado pelo êxtase … E quando o pokémon está preparado para evoluir, este êxtase transformasse em energia.”

– Tu… Tusken? – perguntou Yuusen, olhando ofegante para aquele pokémon novo diante de seus olhos.

– Quaaaaaaaaakeraptor! – seu chamado era forte, mas com a docilidade de um predador pacífico. Quakeraptor, no ápice de sua plenitude, aproxima-se de Yuusen ainda sem ter noção do próprio tamanho, esticando seu pescoço de encontro ao seu corpo e lambendo seu treinador como um filhote de cachorro.

Yuusen ria e gargalhava, fazendo cócegas e carícias em seu querido pokémon. Tusken evoluiu, bem diante de seus olhos! Mas continuava o mesmo dinossaurinho bobo e amável que conhecera, e certamente, um companheiro fiel e presente…

“Eles estavam prontos… Só precisavam enxergar. Só precisavam compreender que energia era esta.”

Pequeno Sparkitty. Ai de quem chamá-lo de pequeno, agora! Um altivo Sparklinx surge de dentro da luz, recebendo o carinho e afeto de sua doce treinadora. Natsumi o abraçou e o beijou em seu rostinho, feliz pela conquista de seu querido gatinho.

“Neste caso, a energia que nos transforma é a mesma que nos dá forças para viver, para sonhar, nos unir… Esta força é o amor”

– Excelente, trabalho, Utama… – disse Daichi, olhando para aquilo e sorrindo orgulhoso de seus pupilos – Eles são seus estudantes agora, assim como os humanos também são meus tutorados. Eu tenho fé nesses dois… Muito além de proteger seu povo, um banchou deve olhar para o futuro. E eles são o nosso futuro, Utama.

– Urrh – concordou Utamatowake, que mesmo tendo a altura de um humano, ainda era menor que seu treinador.

– Eles tem muito o que aprender… Temos que ensinar tudo a eles – Daichi se aproximou de Yuusen, cruzando os braços e o olhando como se não estivesse afetado por sua felicidade – O que você pensa que está fazendo, moleque?

– Hã? – Yuusen jogou a cabeça para trás e olhou para Daichi, olhando-o de baixo para cima – O que você quer? Eu já não acabei de pescar dois Lummets enormes?!

– Um pra você, e outro para o Tusken. Já viu o tamanho disso? – Quakeraptor o olhava com curiosidade. Daichi ergueu Yuusen do chão (com aparente facilidade) e lhe entregou novamente a vara de pescar em mãos – Ele vai precisar comer mais. Volte pra lá e pegue mais dois!

– Aaaaaaahhhwwnn, NÃÃÃÃÃO! – Yuusen gritou desesperado. Suas mãos pareciam um tabuleiro de xadrez de tanto segurar a ponta da vara!

Todos riram com espontaneidade da situação. Sorrindo, Yuusen abraçou a cabeça de Quakeraptor, que agora já tinha quase a sua altura… Ainda viveram muito tempo juntos, aprenderiam juntos e cresceriam juntos. Naquele dia, parte de Yuusen também se transfoemou.

Longe dali, em algum lugar de Mai Teng, Daisuke deixava seu local de trabalho. Estava cabisbaixo, pensativo, distante, alheio ao mundo a cercá-lo – mesmo sendo este ambiente tão obscuro e hostil. Daisuke era um jovem simples, sensível, e não podia simplesmente ignorar tudo o que havia feito… Na calada da noite, o jovem herdeiro de Mai Teng era escoltado por seus seguranças para fora do frigorífico. Mesmo sob suas patentes e ar severo, os dois soldados já trocavam uma palavra ou duas com seu protegido Daisuke, tristonho ao entrar na limusine que o levaria de volta para casa.

– Não se deixe abalar, senhor Daisuke – disse um dos soldados – Você vai aprender.

– Sim – completou o outro – Estaremos aqui para ajudá-lo no que for possível.

– Não podem me ajudar… – ele disse sem olhar os homens nos olhos – Não podem convencer meu pai de que eu não sou o que ele quer que eu seja… Sou um fracassado.

Daichi encolhe-se no banco do carro, como se quisesse sumir dentro do estofado. Seria melhor que os dois rapazes o deixasse com seus pensamentos.

Yuusen e Daisuke. Dois jovens, duas almas, caminhos diferentes. A estrada para a liberdade, o trajeto para a opressão. No entanto, mesmo em rotas tão adversas, o destino tratará de os unir numa teia de ações e reações, de causas e conseqüências… Quem poderá dizer o que vai acontecer quando seus caminhos se cruzarem no futuro?